Todos já falamos frases como essas acreditando sinceramente que era mera constatação, na verdade, mesmo sem intenção, estamos verbalizando nosso julgamento moralizador. Julgamos cada comportamento da criança e depois de um período resumimos essa contabilidade em um rótulo. Qual o problema nisso?
Os rótulos impedem a conexão humana. Até entre adultos, a partir do momento que você rotula alguém, deixa de se relacionar com a pessoa para se relacionar com o rótulo. Um exemplo: se um funcionário de uma empresa rotulado como preguiçoso deixar de fazer uma tarefa, é provável que seu chefe não queira nem saber as razões dele. O chefe simplesmente sustentará esse rótulo, perdendo a oportunidade de saber que a razão não foi preguiça, mas esquecimento. O funcionário estava tão feliz porque a esposa passou num concurso que esqueceu da tarefa. Ao considerar que já sabia o motivo da falha, o chefe perdeu uma oportunidade de se conectar com seu subordinado, enxergando-o como um todo, além de parabenizar a esposa dele e, talvez, até se contagiar pela felicidade alheia.
Quando rotulamos a criança, existe o agravante dela estar num lugar duplamente vulnerável. Primeiro, ainda está tentando construir uma imagem de si mesma e imagine qual o tamanho da influência da opinião dos pais nessa identidade em formação. Segundo, a criança tem uma tendência natural de querer agradar o adulto. Você pode não perceber, mas quando chama seu filho de teimoso, você cria uma expectativa que ele se comporte assim e ele irá se comportar assim para atender a essas expectativas.
Qual o problema então dos rótulos “positivos” como “bonzinho”, “super inteligente”? Eles também viram um peso, também é uma expectativa a ser atendida. E se naquele dia ele não estiver se sentindo tão bonzinho? Será que os pais o amarão igual?
E se for um rótulo neutro, tipo “curioso”? Novamente há expectativa a ser atendida que vai provavelmente limitar que a criança explore outras características. Por ser conhecida como curiosa, pode deixar de se descobrir como esportista, por exemplo.
Montessori pede aos adultos que esqueçam seus julgamentos, apenas observem.
Sob os olhos de um adulto preparado em Montessori, uma criança que canta enquanto caminha não é uma criança indisciplinada, nem é uma criança errada. Ela é uma criança que canta enquanto caminha – Lar Montessori
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