quinta-feira, 29 de setembro de 2016

RÓTULOS: pra que(m) servem?

Todos já falamos frases como essas acreditando sinceramente que era mera constatação, na verdade, mesmo sem intenção, estamos verbalizando nosso julgamento moralizador. Julgamos cada comportamento da criança e depois de um período resumimos essa contabilidade em um rótulo. Qual o problema nisso?

Os rótulos impedem a conexão humana. Até entre adultos, a partir do momento que você rotula alguém, deixa de se relacionar com a pessoa para se relacionar com o rótulo. Um exemplo: se um funcionário de uma empresa rotulado como preguiçoso deixar de fazer uma tarefa, é provável que seu chefe não queira nem saber as razões dele. O chefe simplesmente sustentará esse rótulo, perdendo a oportunidade de saber que a razão não foi preguiça, mas esquecimento.  O funcionário estava tão feliz porque a esposa passou num concurso que esqueceu da tarefa. Ao considerar que já sabia o motivo da falha, o chefe perdeu uma oportunidade de se conectar com seu subordinado, enxergando-o como um todo, além de parabenizar a esposa dele e, talvez, até se contagiar pela felicidade alheia.


Quando rotulamos a criança, existe o agravante dela estar num lugar duplamente vulnerável. Primeiro, ainda está tentando construir uma imagem de si mesma e imagine qual o tamanho da influência da opinião dos pais nessa identidade em formação. Segundo,  a criança tem uma tendência natural de querer agradar o adulto. Você pode não perceber, mas quando chama seu filho de teimoso, você cria uma expectativa que ele se comporte assim e ele irá se comportar assim para  atender a essas expectativas.

Qual o problema então dos rótulos “positivos” como “bonzinho”, “super inteligente”? Eles também viram um peso, também é uma expectativa a ser atendida. E se naquele dia ele não estiver se sentindo tão bonzinho? Será que os pais o amarão igual?

E se for um rótulo neutro, tipo “curioso”? Novamente há expectativa a ser atendida que vai provavelmente limitar que  a criança explore outras características. Por ser conhecida como curiosa, pode deixar de se descobrir como esportista,  por exemplo.

Montessori pede aos adultos que esqueçam seus julgamentos, apenas observem.

Sob os olhos de um adulto preparado em Montessori, uma criança que canta enquanto caminha não é uma criança indisciplinada, nem é uma criança errada. Ela é uma criança que canta enquanto caminha – Lar Montessori


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Mãe, você duvida de si mesma?


Nós mães temos sido levadas a duvidarmos de de nós mesmas.
Não era pra ser normal essa necessidade crescente de apoio profissional para gestar, parir e amamentar. Se não temos uma chancela "autorizada", não nos achamos bastante para tomar essas - e outras iniciativas. 

Passamos toda a gestação com muitas dúvidas, parimos muitas vezes da forma que não desejávamos, e por falta de apoio (prático, e não profissional) frequentemente não conseguimos amamentar prolongadamente.

Nós nos questionamos, duvidamos de nós mesmas. Mas, será que estamos nos fazendo as perguntas certas? 
Quanto aos profissionais aos quais depositamos nossa confiança: será que ele (ou ela) acredita e defende a autonomia da mulher? Acredita e defende a amamentação? Será que teve um bom vínculo com sua mãe/pai? Suas opiniões são isentas de ressentimentos? Quando me aconselha a não pegar meu filho no colo para que se torne "independente", está baseando-se em quais argumentos? Por que nós devemos conceder a um estranho o poder sobre nossas atitudes e nossas vidas?

E por que nós duvidamos da nossa intuição?
Por que não conseguimos nos calar e ouvir nosso coração?
Por que muitas vezes agimos contra nossas convicções e ficamos com aquele gosto amargo de arrependimento?

Essas são umas das questões que deveríamos fazer a nós mesmas. 
Nós precisamos nos calar, olhar pra dentro. Ouvir nossos corações. 
A maternidade é natureza, é intuição, é instinto. 

Se você se sente angustiada e deseja trabalhar essas questões, compartilhe suas questões conosco em nossas redes sociais ou através do nosso e-mail! 
Será um prazer enorme ajudá-la!
Conte conosco!

Com carinho,
Carol Daussat - depois que pari. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Uma etapa única e importante de um pai.


Enquanto pai você poderá tecer uma ligação forte com seu bebê portando-o em seus braços, fazendo-o uma massagem, dando um banho, ao passear e brincar com ele, cantando, abraçando-o e conversando com o seu bebê, enfim, vivendo dia-a-dia ao lado desse novo ser que compõe sua família. Ao viver momentos como esses ao lado do seu bebê, a produção de hormônio que favorece o apego é estimulada. 

Seu papel é também essencial para a amamentação do seu bebê, pois você é a principal fonte de apoio à mãe da criança. Você deverá igualmente estar ao lado dela, apoiá-la, face aos olhos e aos eventuais conselhos de terceiros. Posicione-se favoravelmente à sua parceira, independente da escolha dela. 

A sua presença e paciência são preciosas durante as primeiras semanas, um período de grande mudança na vida de quase todas as mulheres recém paridas. Pode até acontecer que você se sinta frustrado da relação de sua companheira com o bebê. Permitir sua companheira de viver essa relação plenamente, tanto possível, trará um impacto inestimável para toda família. A mãe estará dentro de uma bolha com seu bebê; mas estará rodeada do seu amor e sua atenção e assim vocês formarão uma bolha à três. 

Acolher um serzinho totalmente dependente dos pais representa uma mudança importante na sua vida de homem e na vida do casal. As necessidades do seu bebê serão geralmente o centro da atenção e preocupação de vocês. A vida com um bebê é geralmente intensa, mas é também muito rica. Aproveite plenamente desses momentos que serão de saudades no futuro. 



Com um pouco de criatividade, vocês encontrarão ideias para passar pequenos momentos "enamorados". Tenha expectativas realistas e muita paciência. Ocupar-se de um bebê é super cansativo. Sua participação prática, palavras doces, uma massagem... Pequenas atenções reforçarão e irão favorecer a relação de vocês e um ambiente relax! 

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Você dá muito colo ao seu bebê? Será que está certo?


Bebê não vicia com colo.

Ele precisa absolutamente dos braços da mãe, do seu calor, e até da sua respiração e seus ruídos viscerais. 

A mãe precisa de sossego e apoio emocional para assumir seu lado animal. Lamber a cria e embalar o bebê nos braços fortalecem o vínculo e dão confiança e bem-estar  a ambos. 
Um bebê vinculado à mãe chora menos, quase não tem cólicas e aprende a respirar melhor. 
Bebês são seres incompletos, com sistema nervoso imaturo. Eles não têm noção de si e são ESTRITAMENTE DEPENDENTES de um cuidador. Esse é o aspecto que costuma desencadear pitacos e conselhos fora de hora. 

Se o bebê não ficar no colo da mãe, vai pra onde? Isso é uma necessidade vital! 

A mãe é essencial para o bebê, mas essa mãe precisa de apoio, por isso para criar um bebê é preciso uma comunidade inteira. 
E por isso que parir é um ato político-social! 


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O parto, a água e o feminino sagrado.


Texto de Sara do Vale. Mãe, artista, doula e ativista pelos direitos da mulher. 
A água tem sido desde tempos imemoriais associada às emoções. E talvez por ser tão variada, conforme a estação do ano ou o ambiente que a rodeia (se este é acidentado ou liso, profundo ou rasteiro, a direito ou sinuoso) a água é muitas vezes comparada às mulheres.
Cíclica, sensível, adaptável, preciosa, geradora da Vida. Na mitologia antiga dos países mais diversos, em muitas civilizações que não sabiam umas das outras, as divindades que representavam a água eram muitas vezes femininas.
Chalchiuhtlicue deusa azteca das águas; Eingana na mitologia aborígena da Austrália, a Mãe de Todos; Acionma (Gaulish) divindade celta; Tefnut no Egipto; Namaka do Hawaii; Ganga da Índia; Vedenemo da Finlândia; Anahita da Pérsia; Ashrah da Mesoptâmia, e Iemanjá do Brasil… entre tantas outras.
Por vezes esta “Mulher Água” é calma e introvertida como um lago solitário, outras é revoltada e agitada como um oceano na tempestade.
Clarissa Pinkola Estés no seu livro “Mulheres que correm com os Lobos”, compara a Água à criatividade feminina. Não apenas no ponto de vista da criação artística mas na Criatividade, na capacidade de Criar que pode habitar todas as partes da nossa vida. Pode ser expressa no criar de um filho, nas tarefas que nos dão prazer, na alegria de ter um tempo só para nós, na força de apoiarmos uma causa que nos é querida.
“O rio da Mulher Selvagem alimenta-nos e faz com que nos tornemos seres semelhantes a ela: a que dá vida. Produzimos rebentos, florescemos, dividimo-nos, multiplicamo-nos, impregnamos, incubamos, comunicamos e transmitimos. Já que a Mulher Selvagem é Rio Abajo Rio, o rio por baixo do rio, quando ela corre dentro de nós, nós corremos. Se a abertura dela até nós for bloqueada, nós ficamos bloqueadas. Passamos então a ser como um rio que morre. Isso não é uma coisa ínfima a ser ignorada. A perda do nítido fluxo criador constitui uma crise psicológica e espiritual". 

Que mensagem passa a nossa Cultura, quando nega a todas as mulheres sem excepção, a possibilidade de poder parir de forma natural, apoiada, gratuita, na água? Um método que protege de intervenções desnecessárias e que coloca a mulher no centro do acontecimento, (literalmente! já viram o espaço que ocupa uma piscina de partos?). Um método que permite um espaço onde só está a mulher, o seu bebé que está a nascer, e o seu parceiro. Onde mais ninguém pode entrar. Podem ajudar, podem assistir, podem maravilhar-se na presença de algo precioso que decorre diante dos seus olhos, mas naquela “bolha”, naquele vórtex de criação, naquele momento só está ela, a Mulher, e a sua pequena família.
Que mensagem passa esta cultura que prefere decidir sobre o que é feito ao corpo das mulheres, a ouvir o que estas estão a comunicar, quando sabem daquilo que precisam? O que eu ouço é: “O que tu sentes e queres não importa. Quem manda sou eu e não há nada que possas fazer em relação a isso”.
Para mim, a questão do Parto na água é um símbolo por excelência do triunfar da natureza selvagem das mulheres. O Parto, é a questão feminina e feminista por excelência. Porque toda a discriminação sofrida nos outros campos pelo Feminino, provém desta nossa capacidade de gerar e parir. E se nesse ponto não há respeito, então não o teremos em mais área nenhuma da vida.
Mas alegremo-nos. A água é silênciosa e delicada, mas também fugidia. E corre, escorre e não se consegue parar o seu curso. Ela arranja sempre forma de jorrar, encontra algures uma brecha, um buraquinho e quando contida durante tempo demais, rebenta com a barragem.

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Texto disponível em: maesdagua.org.