Eu passei mais um final de semana
ouvindo as preciosidades de Michel Odent.
Para quem não conhece, Michel é um
médico francês conhecido pelos conceitos de sala de parto como casa e da
utilização das piscinas de parto. Fundador do centro de pesquisa: Primal Health
Research Center em Londres. Ele defende a “mamiferização” do parto, que é como
chama o conjunto de ações que fazem com que o nascimento respeite as condições
inatas da mulher.
Eu bati um papo com ele que com muita
paixão falou do seu assunto favorito.
Eu sempre vejo você falando de parto, nascimento e etc, e visto que estamos
pertinho do seu aniversário, eu queria saber como foi o seu nascimento, como
pariu a sua mãe?
Nasci em casa, em 1930, com a única
parteira do vilarejo. Meu pai estava em casa, mas não entrou no quarto. Eu sou o
filho mais velho e, de acordo com a minha mãe, o dia do meu nascimento foi o
mais feliz da vida dela. Ela teve a primeira contração às 22h e eu nasci à
meia-noite. Eu acho que minha avó estava presente para proteger a minha mãe. Naquela
época o parto era uma coisa de mulher. O pai não entrava no quarto.
O que você sugere que tenha acontecido com a espécie humana que parece
estar esquecendo como parir?
Eu me sinto tentado a dizer que o que
caracterizou a história do parto na segunda metade do século XX foi a
masculinização do ambiente. Sem falar das consequências, podemos dizer que o
que está associado a esse fenômeno é o fato de haver partos cada vez mais difíceis.
Num período tão curto as mulheres já perderam (de certa maneira) a capacidade
de parir por elas mesmas, segue a mesma lógica para a amamentação.
Quando a gente passa a se servir cada
vez menos de um sistema fisiológico, ele se enfraquece de geração em geração. É
o caso do sistema de ocitocina. Hoje para botar no mundo um bebê, as mulheres
não necessitam mais secretar esse hormônio, elas recebem através de uma
perfusão uma substância sintética ou ainda são submetidas a cesarianas. Com
relação às intervenções e induções do parto há muito ainda a se falar, isso
vamos deixar pra depois. (risos)
Com relação a evolução da nossa espécie o que você caracteriza como mais
importante?
Hoje, para aqueles que se interessam na
evolução do Homo sapiens, a evolução dos genes de nossa espécie, eu não vejo um
assunto mais importante do que a possível degradação - nesse momento pode
parecer apenas uma suspeita – dos sistemas fisiólogicos essenciais, como o
sistema de ocitocina, essencial para a socialização, essencial para todas as
facetas da capacidade de amar.
O que nos explica a fisiologia moderna
é que o parto é um processo involuntário, sob a dependência de estruturas
cerebrais arcaicas que temos em comum com os outros mamíferos. A fisiologia nos
ajuda a compreender que a gente não pode ajudar em um processo involuntário,
mas a gente pode incomodar, inibir, embaraçar; e o que mais inibe um parto na
espécie humana, o que paralisa o ser humano dentro de um processo involuntário
como o parto, é a atividade do cérebro que pensa, o intelecto. Não é o trabalho
dessa parte do nosso cérebro parir. Isso nos permite compreender que a palavra
chave quando falamos de parto é: proteção. É preciso proteger a mulher que está
em trabalho de parto. Protegê-la contra tudo que possa estimular o seu cérebro
intelectual.
Hoje nós estamos numa situação
completamente nova: a fisiologia moderna nos oferece a compreensão de um parto,
que é radicalmente diferente do nosso condicionamento cultural.
O que e como poderíamos tornar o parto mais fácil?
Quanto mais máquinas, especialistas por
perto e iluminação, menor a segurança da mulher no momento em que ela precisa
estar tranquila para dar à luz. O bebê deveria ficar com a mãe assim que nasce
e ser amamentado na primeira hora de vida. Sempre lembrando que somos animais,
o obstetra fala sobre a fisiologia do parto, sobre os hormônios e substâncias
ligadas ao nascimento e ao medo, que podem causar dor.
É isso que torna fácil o parto para a
espécie humana: quando colocamos o neocortex para descansar, nós temos muito
mais similaridades com os outros mamíferos que parem mais facilmente do que os
seres humanos.
Apenas para concluir e fazendo um paralelo
no sentido oposto com os outros mamíferos, sabe essa raça de cachorros buldog,
procure saber sobre ela, esses animais perderam sua capacidade de parir por si
mesmos, imagina?
Michel, eu e Liliana Lammers
Maravilhosos!
ResponderExcluirObrigada, amiga, eles são mesmo demais! ❤️
ExcluirMuito bom Carol! Precisamos nos apropriar mais dos nossos corpos!
ResponderExcluirVerdade Dani, e eu estou pronta pra essa luta em prol das mulheres!
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