Do século XIV ao XVII, uma imensa
caça às bruxas foi instaurada e milhares de mulheres, parteiras e benzedeiras,
foram presas, queimadas e mortas. Com o desenvolvimento da ciência, essas
mulheres acompanhantes de famílias do nascimento até a morte não agradavam à
igreja, queria manter o seu controle. Elas eram presas por heresia ou bruxaria.
No mesmo momento a medicina se desenvolvia e interditava o acesso a essa
formação universitária por mulheres. Através da caça às bruxas, e denunciando
as práticas medicinais não profissionais como sendo uma heresia, a igreja
legitimava oficialmente o profissionalismo da medicina. Uma mulher que ousava
praticar a medicina sem ter estudado era rotulada de bruxa e merecia morrer.
Lembrando aqui que as mulheres eram PROIBIDAS de ter acesso aos estudos
universitários.
No século XV, barbeiros-cirurgiões
passam a se interessar pelos partos. Eles eram os únicos que aceitavam intervir
para extrair com urgência um bebê. Na Inglaterra, eles passam a atacar as
parteiras declarando-se superiores a elas pelo fato de usarem o fórceps.
Essas mulheres que asseguravam o
nascimento, desde as sociedades antigas, foram pouco a pouco excluídas no mundo
ocidental. A palavra obstetra surge pela primeira vez em 1800: uma ciência
masculina começa a dominar a prática feminina ancestral.
No século XIX se desenvolvem uma
séria de maternidades hospitalares, com uma história dramática de infecções
puérperas e de mortalidade materna e infantil: atos invasivos para o
acompanhamento do parto se multiplicavam (toques vaginais, instrumentos e
exames diversos), a falta de higiene, a proximidade com doentes e fraqueza e
sensibilidade de algumas mulheres, muitas vezes pobres e subnutridas explicam
essa carnificina. A maior parte das mulheres entre o século XVIII e início do
século XX não desejavam parir em hospitais devido à alta taxa de mortalidade
materno e infantil.
Ignace Semmelweis, um jovem
médico de Viena, no início do século XIX, propõe lavar as mãos com antisséptico
antes de fazer exames em pacientes, pois pra ele parecia evidente que as febres
poderiam ser contagiosas. Ele foi rejeitado e excluído pelos seus colegas
médicos.
A pedido de mulheres da alta
burguesia, as parteiras continuavam a realizar partos a domicílio, onde havia
menos intervenções e menos riscos de infecções. Mas o poder médico se
instalava, e apesar de tudo, esses profissionais conseguiram impor uma tutela às
parteiras que agora eram submissas aos obstetras/cirurgiões e deveriam
trabalhar nas maternidades. As medidas de assepsia se desenvolviam e com a
descoberta de antibióticos tornam o parto e outras intervenções, como uma cesariana,
menos perigosas.
E a partir de 1920, as mulheres são dirigidas aos hospitais
para parir. A medicalização do nascimento está a caminho: as mulheres se
encontram submissas ao poder medical. As grandes unidades hospitalares
banalizaram e desumanizaram o nascimento, um evento completamente FISIOLÓGICO.
A mulher não tem mais a capacidade de dar a luz pelos seus próprios meios, ela
não é mais escutada nem apoiada. Ela se torna incapaz e deixa de ser
protagonista do parto. Ela se encontra sozinha e submissa a protocolos
agressivos e inumanos: ela é despida, depilada, submetida à lavagem, deve se
deitar de costas sobre uma mesa fria e dura, com os pés elevados, muitas vezes
amarrada, imóvel ou mesmo anestesiada. Esses processos foram evoluindo ao
passar dos anos todos em nome da ciência e da assepsia.
Se a mulher se sente mal, está
inconfortável, grita ou quer se movimentar, ela será obrigada a calar-se. São
proferidos comentários grosseiros e humilhantes da parte dos médicos ou do
pessoal técnico.
Nesse contexto hospitalar, o bebê
é separado de sua mãe desde o nascimento para passar por vários protocolos
diferentes e (quase) sempre desnecessários.
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