sexta-feira, 24 de junho de 2016

Parteiras ou bruxas? A sabedoria ancestral.


Do século XIV ao XVII, uma imensa caça às bruxas foi instaurada e milhares de mulheres, parteiras e benzedeiras, foram presas, queimadas e mortas. Com o desenvolvimento da ciência, essas mulheres acompanhantes de famílias do nascimento até a morte não agradavam à igreja, queria manter o seu controle. Elas eram presas por heresia ou bruxaria. No mesmo momento a medicina se desenvolvia e interditava o acesso a essa formação universitária por mulheres. Através da caça às bruxas, e denunciando as práticas medicinais não profissionais como sendo uma heresia, a igreja legitimava oficialmente o profissionalismo da medicina. Uma mulher que ousava praticar a medicina sem ter estudado era rotulada de bruxa e merecia morrer. Lembrando aqui que as mulheres eram PROIBIDAS de ter acesso aos estudos universitários.

No século XV, barbeiros-cirurgiões passam a se interessar pelos partos. Eles eram os únicos que aceitavam intervir para extrair com urgência um bebê. Na Inglaterra, eles passam a atacar as parteiras declarando-se superiores a elas pelo fato de usarem o fórceps.
Essas mulheres que asseguravam o nascimento, desde as sociedades antigas, foram pouco a pouco excluídas no mundo ocidental. A palavra obstetra surge pela primeira vez em 1800: uma ciência masculina começa a dominar a prática feminina ancestral.

No século XIX se desenvolvem uma séria de maternidades hospitalares, com uma história dramática de infecções puérperas e de mortalidade materna e infantil: atos invasivos para o acompanhamento do parto se multiplicavam (toques vaginais, instrumentos e exames diversos), a falta de higiene, a proximidade com doentes e fraqueza e sensibilidade de algumas mulheres, muitas vezes pobres e subnutridas explicam essa carnificina. A maior parte das mulheres entre o século XVIII e início do século XX não desejavam parir em hospitais devido à alta taxa de mortalidade materno e infantil.

Ignace Semmelweis, um jovem médico de Viena, no início do século XIX, propõe lavar as mãos com antisséptico antes de fazer exames em pacientes, pois pra ele parecia evidente que as febres poderiam ser contagiosas. Ele foi rejeitado e excluído pelos seus colegas médicos.
A pedido de mulheres da alta burguesia, as parteiras continuavam a realizar partos a domicílio, onde havia menos intervenções e menos riscos de infecções. Mas o poder médico se instalava, e apesar de tudo, esses profissionais conseguiram impor uma tutela às parteiras que agora eram submissas aos obstetras/cirurgiões e deveriam trabalhar nas maternidades. As medidas de assepsia se desenvolviam e com a descoberta de antibióticos tornam o parto e outras intervenções, como uma cesariana, menos perigosas.

E a partir de 1920, as mulheres são dirigidas aos hospitais para parir. A medicalização do nascimento está a caminho: as mulheres se encontram submissas ao poder medical. As grandes unidades hospitalares banalizaram e desumanizaram o nascimento, um evento completamente FISIOLÓGICO. A mulher não tem mais a capacidade de dar a luz pelos seus próprios meios, ela não é mais escutada nem apoiada. Ela se torna incapaz e deixa de ser protagonista do parto. Ela se encontra sozinha e submissa a protocolos agressivos e inumanos: ela é despida, depilada, submetida à lavagem, deve se deitar de costas sobre uma mesa fria e dura, com os pés elevados, muitas vezes amarrada, imóvel ou mesmo anestesiada. Esses processos foram evoluindo ao passar dos anos todos em nome da ciência e da assepsia.

Se a mulher se sente mal, está inconfortável, grita ou quer se movimentar, ela será obrigada a calar-se. São proferidos comentários grosseiros e humilhantes da parte dos médicos ou do pessoal técnico.


Nesse contexto hospitalar, o bebê é separado de sua mãe desde o nascimento para passar por vários protocolos diferentes e (quase) sempre desnecessários. 

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