sexta-feira, 20 de maio de 2016

Respeito ao parto e à mulher!



Quando nós reconhecemos como um direito apenas 'sobreviver' ao parto, a violação de outros direitos humanos das mulheres torna-se invisível. As mulheres, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento estão se organizando para falar sobre os sistemas de cuidados que as desumanizam e as traumatizam em seu momento de maior vulnerabilidade. 

Elas estão exigindo o reconhecimento de seus direitos, não somente o acesso à saúde e de sobreviver ao parto, mas seus direitos à autonomia de consentir e recusar. Direito à privacidade, à dignidade, ao tratamento não-violento, não-discriminatório em trabalho de parto e nascimento. O marco dos direitos humanos leva as mulheres para além da exigência do uso de 'prestadores de serviços' para dar-lhes atendimento individualizado e não-violento. A exigência é de que o governo faça cumprir os direitos humanos das mulheres como direitos legais que devem ser respeitados na política e na prática.

Em algumas nações, grupos de mulheres já aprovaram leis nomeando o abuso de mulheres no parto como violência obstétrica, e trazem ações legais que descrevem suas experiências nesses termos. Vale ressaltar que a maioria desses locais onde mulheres estão conseguindo passar leis contra a violência obstétrica são países com mais altas taxas de cesarianas no mundo, como América do Sul e Central. O que não significa que países "desenvolvidos" estejam fora dessa triste realidade. Um estudo sobre violência obstétrica realizado por uma parteira francesa, Marie-Line Perarnaud, promete lançar números assustadores sobre a violência a qual são submetidas mulheres francesas.

O desrespeito e abuso de mulheres no parto, e a geração de crianças que nascem por cirurgia, não são questões suaves de direitos humanos. O direito ao apoio respeitoso, não-violento durante o parto não é um pedido de uma "experiência positiva do nascimento." Enquadrar estas questões em termos de "experiência do nascimento" corre o risco de banalizá-las, e cria uma falsa dicotomia entre a "experiência" dos cuidados, contra a saúde e segurança. As questões que estamos falando aqui são, de fato, sobre saúde e segurança, e são uma questão de vida ou morte. 

A epidemia de cesarianas no mundo é por si só uma violência obstétrica. Em muitas cidades e nações, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, mulheres que possuem acesso a um programa de saúde "de qualidade" são direcionadas em linhas de montagem a cirurgia cesariana, enquanto as mulheres de comunidades marginalizadas em uma mesma nação são deixadas a mercê terminando muitas vezes em morte. Há equidade nisso? 

Relatos da mídia sobre a pandemia de cesarianas afirmam que muitas vezes as mulheres optam por essas cirurgias. Estudos mostram, isso não é verdade. As mulheres querem um parto saudável. Elas querem poder contar com o apoio do sistema de saúde a fim de suprir suas necessidades, inclusive uma cirurgia - caso seja necessário. Sabemos que o sistema econômico tem influenciado muito na escolha de médicos ao optarem por se negarem ao atendimento de um parto normal e respeitoso. O dinheiro que os sistemas de saúde estão desperdiçando sobre o parto cirúrgico de bebês saudáveis ​​de mulheres saudáveis ​​poderiam ser direcionados para mulheres carentes e lacunas de fechamento em saúde reprodutiva das mulheres.

Quando é que vamos nos levantar e dizer, não mais? Por que estamos deixando isso acontecer com nós mesmas e nossos filhos? Por que estamos deixando que isso aconteça com outras mulheres? O que uma maternidade deve fazer para preservar não apenas o direito da mulher sobreviver a um parto, mas o espectro completo dos direitos humanos que cada mulher tem, e que ela carrega em trabalho de parto e parto? Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer, a mudança TEM que começar pela maternidade, afinal TODOS nós viemos de lá!

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