quarta-feira, 25 de maio de 2016

Co-escuta: uma maneira simples de curar as feridas.


A co-escuta possui uma base simples e bem sucedida! Qualquer pessoa pode colocá-la em prática e ela pode mudar nossas vidas. 

Falar faz um bem, um bem danado. Se o nosso interlocutor nos dá espaço e tempo, falar nos permitirá ser compreendido, ser ouvido (e às vezes é exatamente o que precisávamos: receber a atenção e compreensão),e é suficiente para esvaziar-se, enxergar o nosso problema de uma forma abrangente, dar um passo atrás (o que pode nos permitir vislumbrar soluções) e curar nossas feridas mais profundas.

Falar cura ... em certas circunstâncias.

Sim, mas com quem podemos falar de todas as nossas lamúrias e necessidades, por 20 a 30 minutos, sem que sejamos interrompidos ou que recebamos algum conselho ou julgamento, alguém que esteja apenas a nos escutar e nos acolher? Quem não teria medo ou receio de irritar um amigo ao expressar sua dor por um longo tempo sem que se torne inapropriado para ele?

Quem pode liberar-se dizendo palavras, se necessário, de horrores (que você pode até não pensar no fundo do coração, mas que te permitirá nesse momento se liberar de algum sentimento) sobre o cônjuge, parentes, vizinhos ou seus filhos sem que haja consequências, sem deixar um rastro?

Mesmo com nossos melhores amigos, nós nos limitamos.

As próprias crianças muito rapidamente internalizam as regras da sociedade, elas costumam parar de chorar muito antes do que elas teriam necessidade de o fazer. 

Não confundamos uma ferida com a sua cura.

Muitas vezes confundimos a lesão, emoção e descarga - ou seja, a libaração- de emoção, que é o processo de cicatrização da ferida. As lágrimas, o riso, tremores, eles são formas de libertação!
E todos nós temos "rigidez". Um que não suporta que façamos barulho ao seu lado, outro que necessita de um certo protocolo ao sentar-se à mesa, uns detestam gente rica, outros os pobres, uns não gostam de mulheres expressivas, ou homens reservados, enfim, quando essas manias e reações se instalam, elas se integram à nossa personalidade, elas se tornam parte de nós, nós nos confundimos com elas. Mas será que nós temos realmente o desejo que essas "características" governem nossas vidas? Elas também podem ser sinais de feridas a serem curadas, explica o John Mullen (um facilitador e formador de co-escuta). 

Co-escuta, simples e extraordinárias, ao mesmo tempo. 

Co-escuta é uma forma de conversação: cada um a seu turno, duas pessoas se ouvem mutualmente. Esta é uma escuta em que se presta atenção ao que se ouve. Nós pensamos na pessoa que fala e no que ela diz, sem interrompê-la com sugestões e/ou questões, somente escutando de bom coração. Após esta troca, ambas as partes geralmente se sentem mais leves e podem refletir com mais facilidade.
Mas tão simples como pode parecer, o co-escuta é extraordinária no sentido de que a gente não se sente (quase) nunca mais o mesmo. 

"Ouvir pode ser muito mais fácil se a gente faz de forma rotativa. Eu te escuto por um certo tempo, depois trocamos e é o meu momento de falar e ser ouvido."

A expressão das emoções pode vir através do riso, lágrimas, raiva, tremor, bocejo, suor ... e nós nem sempre somos capazes de resistir, igualmente, essas descargas emocionais. Para a maioria de nós, o riso é muito mais fácil de tolerar do que lágrimas ou gritos (outro dia meu bebê de 15 meses chorava desesperadamente por ter sido contrariado, eu decidi acolher seu choro e estar presente vivendo aquele momento apenas para ele. Estávamos tão conectados que não senti o tempo passar e portanto, para meu companheiro que estava trabalhando em seu computador pareceu uma eternidade. No entanto, após esses 10 minutos, pude constatar o bem-estar que ele sentia ao ter expressado todo seu sentimento nesse choro. 

"O que fazer para ser um bom ouvinte: 1. escutar com respeito; 2. respeitar a confidencialidade; 3. em palavras e atos, mostrar-se encantada(o) em estar escutando a pessoa a sua frente; 4. encorajá-la a falar; 5. manter um olhar acolhedor.
O que NÃO fazer: 1. não interromper; 2. não dar conselhos; 3. não dar opiniões; 4. não falar sobre a sua história a partir de algo que a pessoa fala. LEMBRE-SE: seu momento de falar chegará!

A co-escuta é baseada na teoria de que quanto mais descarregamos as lesões (quanto mais choramos, rimos, trememos, enfim...) melhor nos sentiremos.

Co-escuta, uma forma de terapia gratuita?

O que é fantástico na co-escuta é que podemos nos expressar sem nos sufocarmos, sem sentir vergonha, porque nós definimos um tempo de escuta mútua. De um lado, podemos ir até ao fim deste tempo, sem medo de incomodar o nosso interlocutor; em segundo lugar, sabemos que iremos fornecer a mesma qualidade de ouvir o nosso interlocutor.

A relação é igual, simétrica, livre.

Os comentários são confidenciais, podemos expressar os fantasmas que nos libertam, ninguém vai repetir que nós queríamos estrangular nosso chefe, socar nosso vizinho ou fazer amor com um príncipe asteca.
Enfim, o ouvinte pode não ser um amigo, nós não devemos temer ao impacto de nossas trocas no momento de escuta. Ambos estamos ali para apenas sermos ouvidos. Você pode desenvolver a co-escuta com alguém muito próximo, com quem deseja também melhorar a relação, ou com alguém que não conheça muito bem, havendo claro um comum acordo de confidencialidade entre vocês. 

Co-escuta pode curar tudo?

Ao longo dos anos, John viu pessoas se recuperarem de lesões grandes e pequenas: um complexo intelectual, as feridas de uma infância passada na pobreza ou assédio, estupro ... "podemos descarregar todas as feridas! Observa John. O potencial humano é enorme, ele é bloqueado por mágoas do passado."

Sim, ele realmente funciona, se a pessoa "cliente" está em confiança e se o ouvinte incentiva a descarga emocional (expressão emocional). O riso ajuda a recuperar de lesões muito graves se ele durar o suficiente.

O ouvinte deve aprender a deixar de lado suas próprias feridas para ouvir. Esta é uma prática que também presta grande serviço na vida diária, e é muito mais fácil praticar quando sabemos que teremos nos próximos dias, um espaço de co-escuta para liberar suas emoções e feridas.

Quem pode realizar a co-escuta?

A comunidade de co-escuta faz pouca publicidade, ela é construída gradualmente, no famoso boca à boca, de todas as origens sócio-profissionais. A única condição necessária antes de embarcar em um treinamento de co-escuta é estar no estado (físico e mental) para ouvir, a empatia é a ferramenta principal. "Nove em cada dez, não há nenhum problema", diz John. Ainda assim, algumas pessoas, por razões próprias, podem falar, mas não são capazes de ouvir a outra pessoa.

A co-escuta é uma potente ferramenta para melhorar sua forma de pensar e sua compreensão do mundo.

Idealmente, as reuniões de co-escuta ocorrem em um encontro real entre duas pessoas que escolhem em comum acordo um tempo para ouvir e para ser ouvido. 

A base da co-escuta é saber ouvir, estar presente e acolher, no entanto, outros cursos são oferecidos posteriormente, para aqueles que querem. Há formações com sessões coletivas de trabalho organizadas em temas específicos, combinando grupo de trabalho e co-escuta: a relação com o dinheiro, a pobreza, a opressão, abuso, entre outros.

É uma excelente ferramenta para si próprio e as conexões com outras pessoas. 

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