quarta-feira, 27 de abril de 2016

Por que nós deveríamos evitar dizer apenas "muito bem" a nossas crianças?

A Expressão “muito bem” faz parte de uma linguagem comum. Nós pensamos que estamos encorajando nossas crianças da melhor maneira utilizando essa frase. Mas, segundo nos precisa a psicoterapeuta Isabelle Filliozat do livro “Já tentei de tudo”, é um tremendo servie-se apenas dela para "encorajar" nossas crianças. 
E vamos ver o porquê!

Uma criança que ouve “muito bem” após um de seus atos pode interpretar da seguinte maneira:
“Isso poderia ter sido ‘mal’?”
Esse julgamento entre “bem e mal” impede a memorização do ato em si. 
A criança vai se lembrar apenas do elogio de ter “bem feito” e, paralelamente, um certo medo de errar (mas isso poderia ter sido “mal”?). O lobo frontal do seu cérebro não é mobilizado.
O poder da descrição:

Para reforçar positivamente o comportamento de uma criança é importante que ela se lembre do ato realizado por ela, ou seja, que alguém descreva verbalmente o que foi realizado por ela. Para que, assim, a criança reviva mentalmente a ação, basta descrever o que vemos. A observação dessa forma irá desencadear alegria na criança. E, por conseguinte, essa alegria estimula a síntese de proteínas que vão reforçar a bainha de mielina dos neurônios implicados nessa ação e codificar a passagem de impulsos nervosos que permitiram essa ação. A criança vai, consequentemente, guardar com mais facilidade a ação bem sucedida.
Portanto, um pai que diz a seu filho “Eu reparei como você passou a bola para o Luis” vai permitir ao seu filho de memorizar a ação e reproduzi-la.  
Note que esse truque descritivo também funciona muito bem com adultos que podem mais facilmente fazer um feedback mental de suas ações (e, assim, reforçar a memorização de movimentos para reproduzir com sucesso).
E você, concorda com essa proposta? Quer dividir com a gente o que você sentiu ao ler? Escreva para nós!

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Bela, Recatada e do Lar!


Me recuso a citar o nome dessa revista medíocre, mas queria dizer que ela perdeu a chance de se calar. Em mais uma reportagem desserviço ela trouxe a tentativa de colocar Marcela Temer na posição de futura primeira-dama, uma mulher perfeita: "Bela, Recatada e do Lar", mostrando mais um show de horrores cheia de machismo.

O título Bela, Recatada e do Lar é exatamente conveniente a uma sociedade patriarcal e atrasada, afinal essa mulher ideal não se insurge, não se revolta, não luta! Ela se contenta com o lugar de inferioridade que lhe é imposto com uma consciência de submissão. Como Marcela, a mulher ideal se satisfaz em ser o braço direito do seu homem, porque tudo que de fato pertence a ela serve única e exclusivamente para usufruto do macho, seu corpo e sua mente. A inflexão usada na matéria é de satisfação e admiração por uma mulher submissa. Marcela, a mulher linda, elegante, discreta e subserviente é o sonho de consumo dessa mídia golpista e conservadora. 

Aquela membra de uma família tradicional, confortável e que vê na presença do homem a necessidade de protegê-la, pois mulheres são frágeis, sensíveis e delicadas. 
O que deseja essa corja machista do sistema patriarcal é mulheres que não sustentem, sozinhas, suas próprias vidas, suas próprias lutas, sua própria existência. Que estejam – e se contentem em estar – à sombra de seus homens. Que dependem deles para existirem socialmente e que mantenham a fragilidade que só eles podem alimentar: as princesas perfeitas a espera de um homem forte e corajoso. 
Gente, vamos parar de ler historinhas da Disney para nossas crianças, já!
Marcela Temer é colocada como a figura do retrocesso feminista e essa reportagem parece ter orgasmos com sua mera existência. 

Confesso que pra mim é muito difícil ter que dizer isso, porque não acho que o brasil possua hoje essa divisão entre direita e esquerda. Vejo um país de partido único governando apenas em prol de interesses burgueses. Um governo onde Kátia Abreu é ministra da agricultura, definitivamente não é de esquerda; mas essa matéria mostra o quanto a direita no Brasil se incomoda com o fato de ter uma mulher completamente fora dos padrões na presidência da república. 
Ao contrário de Marcela, Dilma é tudo que o patriarcado não quer: não obedece aos padrões de beleza estabelecidos, não se curva diante da exigência de subserviência feminina que ainda persiste, não cultiva a delicadeza tradicionalmente feminina (afinal, não somos obrigadas!), além de ser vista pelo mundo inteiro como uma mulher poderosa! Sim, mulheres podem ser poderosas! Assim como se diz por aí: uma mulher de grelo duro. 

Essa burguesia falida e golpista brasileira não quer as mulheres poderosas. 
Acontece que, as mulheres do século 21 estão redescobrindo a sua essência, buscando sua liberdade e o que me deixa mais feliz: se unindo! Mulheres do século 21 trabalham, lutam, se estafam de fazerem milhões de atividades sozinhas, são mães, mulheres, esposas, empregadas, operárias, funcionárias, ativistas, militantes... São presidentes! E querem muito mais! Agora nós sabemos que podemos e não vão mais nos silenciar! 

Vamos juntas! 

OBSERVAÇÃO ULTRA IMPORTANTE:
Este texto não é contra mulheres que escolhem viver nos moldes "tradicionais", esse texto é para mostrar que TODAS as mulheres têm valor, e liberdade para desejar o que quiserem!








sexta-feira, 15 de abril de 2016

Casa compartilhada - República para mães.



Essa semana recebemos uma mensagem pela fanpage do facebook de uma iniciativa que pode simplesmente mudar para melhor a vida de muitas mães solo nesse mundo afora! 
Uma excelente ideia que agrega e acolhe! 
Deixo aqui meus parabéns pela iniciativa e vida longa a essa ideia!

Segue abaixo a mensagem!

___________



[MÃES ] [Moradia] ["Repúblicas" para Mães] [Autonomia] [Empoderamento] [Grupo Virtual]
Olá!
Peço licença para divulgar o grupo "Uma mãe para dividir o aluguel", voltado a unir mães que criam seus filhos sozinhas.
Assim como os grupos virtuais para formar repúblicas estudantis, nosso espaço também tem o intuito de reunir mulheres que queiram dividir despesas de moradia, não importando aqui se são trabalhadoras, estudantes etc.
A diferença consiste em encontrar mulheres que tenham em comum a Maternidade, para que possam organizar suas vidas em busca de uma autonomia pouco provável de ser conquistada em convivência marital.
Considera-se que:
* Muitas mulheres não pedem divórcio dos maridos por medo de não conseguir pagar o aluguel sozinhas;
* Morar com outras mulheres reduziria a jornada extra de trabalho doméstico por haver cooperação;
* Seria possível um revezamento para ficar com as crianças e, portanto, sobraria ao menos algum tempo livre pra cada mãe investir em si.
Quem se interessar, ajude a construir a ideia, divulgar e encontrar quem precisa de ajuda. Emoticon heart
Link do grupo nos comentários.
{Mulheres que não são mães também podem entrar pra ajudar, chamar as miga, encontrar colegas pras outras e tal ♥}
Atualizando: A princípio o grupo seria para mães de todo o Brasil. Graças a queridas amigas residentes no exterior, já contamos com algumas mães de fora. Emoticon colonthree
Muito obrigada!
________________

Se você está interessada nessa proposta busque o grupo no facebook através do título (e link) "Uma mãe para dividir o aluguel".


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Cesariana, ou abatedouro de mulheres?

A cesariana é o exemplo por excelência de uma tecnologia médica concebida inicialmente para o benefício de mães e bebês, e que agora é convertido em uma arma de dominação sobre o corpo das mulheres.

Até a Segunda Guerra Mundial, os médicos poderiam fazer a pergunta assustadora “devemos salvar a mulher ou a criança?” Para um desfecho fatal de um parto. De acordo com a resposta ou o feto era retirado do útero da mulher em pedaços ou a mulher era aberta para a retirada do bebê, que geralmente ocasionava a morte da mulher seguindo as infecções consecutivas à operação. A descoberta da penicilina marca o pontapé inicial de uma melhoria considerável da intervenção. Desde o pós-guerra, o uso de antibióticos, o progresso relacionado à transfusão de sangue e a otimização de técnicas de anestesia cesariana impulsiona os tratamentos cirúrgicos quase banais.

Embora a cesariana seja agora uma operação relativamente segura, não é inteiramente livre de perigos. Na verdade, ela triplica o risco de morte em comparação com um parto normal, e aumenta a probabilidade de infertilidade. Ela também pode provocar hematomas, infecções do trato urinário, danos aos órgãos e tecidos circundantes. Em casos raros, hemorragia grave, problemas de cicatrização e infecções graves que necessitam de reoperação. De uma maneira sorrateira, muitas mulheres têm de lidar com as consequências psicológicas, tais como um sentimento de fracasso, o luto por um parto idealizado, perda de confiança nas habilidades de seu corpo ou até mesmo depressão como ocorre frequentemente no caso de outras operações. Os dias seguintes ao nascimento trazem a sua quota de trauma adicional porque, além de sofrer a dor e pós-operatório, as jovens mães estão confinadas numa impotência e dependência daqueles que estão ao redor no momento da chegada de um recém-nascido que também exige um reajuste completo da organização da vida. Elas têm de suportar a humilhação de pedir ajuda para as suas necessidades mais básicas e, para piorar a situação, são impossibilitadas de segurarem o bebê em seus braços e assegurar livremente os primeiros passos da maternagem. Tudo isso sob a ambivalência das mulheres a respeito da sua cicatriz que marca seu ventre para o resto da vida.

Tendo em conta estas consequências, seria prudente que a cesariana fosse reservada apenas para casos em que a vida ou a saúde da mulher ou do bebê está em perigo real. Infelizmente, estes últimos trinta anos têm visto uma explosão deste tipo de parto. Atualmente, no Brasil 85% das mulheres (da rede privada) dão à luz desta forma, enquanto a Organização Mundial de Saúde estima que a taxa de cesarianas superior a 15% significa não somente que cesarianas não justificadas são praticadas, mas que essa percentagem significativa tem um impacto deletério sobre a saúde das mulheres. Um estudo em 2014 cobrindo 19 países ocidentais, conclui que mesmo a uma taxa de 10% de cesarianas, nenhuma melhoria é demonstrada no nível de mortalidade neonatal. Em outras palavras, uma a cada duas cesarianas é desnecessária.

Se a relação benefício/risco desta técnica não é óbvia para mulheres saudáveis, as vantagens são bastante claras para os médicos. Muitos obstetras são cirurgiões que em sua maioria nunca participaram de nenhum parto natural, além de terem uma propensão mais nítida para o manuseio do bisturi do que para o apoio emocional de uma mulher parturiente durante longas horas de trabalho.

Além disso, situações mais delicadas de parto, como um bebê em posição pélvica, por exemplo, não fazem mais parte do currículo de centenas de estudantes de medicina, como a cesariana é apresentada como uma panaceia em detrimento da liberdade de escolha para as mulheres na maneira de dar à luz a seu filho. Os médicos, portanto, praticam essa técnica  porque eles não sabem fazer de outra maneira, assim seguem perpetuando a ignorância favorecendo a perda, ao longo do tempo, de um conhecimento que ainda existe e há quem o queria praticar.

A culpa é sempre da mulher.

É claro que os praticantes raramente apresentam os seus próprios interesses, preferências e limitações para oferecer uma cesariana, preferindo concentrar-se nas falhas reais ou imaginárias das mulheres.

A maneira mais fácil para alguns ginecologistas alcançar seus objetivos, inclusive financeiros, é impor uma cesariana a uma mulher é quando ela já se submeteu a uma cesariana anteriormente. Apesar das recomendações da OMS recordando que um útero cicatrizado mesmo depois de duas cesarianas, não é em si uma indicação contra-parto vaginal, ainda existem médicos seguidores do dogma "uma vez cesárea, sempre cesárea."

A cesárea também é muito benéfica tanto financeiramente como em termos de organização do serviço. Uma cesariana fornece muito mais dinheiro para uma instituição hospitalar do que um parto normal, que pode inclusive dependendo do trabalho de parto da mulher ocupar por muitas horas uma sala que poderá servir a várias cirurgias em um único dia.

Outra forma de empurrar uma mulher para uma cesariana é culpá-la por ter a pélvis muito estreita em relação ao tamanho do bebê. O fato é que é tecnicamente impossível saber se o bebê não vai passar antes que o trabalho de parto tenha começado e a dilatação esteja completa. Ou seja, só é possível diagnosticar um caso real de desproporção entre cabeça do bebê e pelve da mãe, no final do trabalho de parto. E, mesmo que se encaminhe para a cesárea, mãe e bebê tiveram muitos ganhos, do ponto de vista hormonal e psíquico, por terem passado pelo trabalho de parto. Devemos ainda acrescentar que em sua grande ignorância da fisiologia, muitos obstetras nem sequer sabem que a bacia não é um osso rígido formado em uma única peça, mas consiste em várias partes unidas por ligamentos, que pode variar de acordo com as posições assumidas pela mãe e sob o efeito da passagem do bebê. Assim, muitos médicos desapoderam de uma mulher o simples fato de que em trabalho de parto a posição de quatro permite que a pelve se expanda o suficiente para facilitar o expulsivo e impedir a possibilidade de distócia de ombro. Como os médicos preferem ver as mulheres deitadas e imóveis, eles preferem escolher cortar suas barrigas em caso de suspeita de complicações, em vez de permitir-lhes colocar seu filho ao mundo em uma posição mais adequada.

É comum ver vários médicos ofendidos, alegando que realizam cesarianas por escolha e pedido da própria mulher e que eles são vítimas dessas divas frívolas que reivindicam essa técnica por puro conforto. Em primeiro lugar, mesmo sabendo que a noção de bem-estar é muito pessoal, eu confesso ter alguma dificuldade em compreender como ter sido cortada em 10 centímetros todas as camadas de pele, músculos abdominais e útero possa trazer algum conforto. Em seguida, os estudos revelam que apenas uma pequena minoria de mulheres, estimada entre 0,3 e 14% desejam uma cesariana. Muitas razões pessoais e sociais são dadas para este pedido, incluindo, muitas vezes o medo do parto. Ao invés de ouvir essas preocupações e trabalhá-las com as pacientes, muitos obstetras se trancam em suas próprias ansiedades, preferem varrer o questionamento das mães e chamar para a faca.

É, portanto, lamentável que num momento em que todos os outros campos cirúrgicos são marcados por um desejo de limitar os cortes no corpo, incluindo o uso de micro-câmeras e robótica finas, um ato tão natural e milenar como o parto continua a ser trocado por um ato cirúrgico cheio de métodos invasivos e mutilantes que datam do século passado. 

________________________________

Fontes:
- Valéria Perasso. 'Epidemia'de cesáreas: por que tantas mulheres no mundo optam pela cirurgia? Jornal BBC Brasil, julho 2015.
- Bruner JP, Drummond SB, Meenan AL, Gaskin IM, « All-fours maneuver for reducing shoulder dystocia during labor. », The Journal of Reproductive Medecine, mai 1998. 43(5):439-43. 
- Ana Claudia Amorim. Conheçaos riscos de uma cesariana desnecessária. Blog da saúde, ministério da saúde. Fevereiro 2015.
- McCourt C., Weaver J., Statham H., Beake S., Gamble J., Creedy DK., « Elective cesarean section and decision making: a criticalreview of the literature. », Birth, mars 2007. 34(1):65-79. 
- Melania Amorim. Estudando acesárea desnecessária: resultados do Global Survey (OMS). Blog Estuda, Melania, estuda, novembro 2012. 

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Mulheres e suas dores: uma questão cultural.


"Não se nasce mulher, torna-se", disse Simone de Beauvoir. O problema é que uma maneira de tornar-se mulher tem virado um problema. No imaginário coletivo, a dor está associada a todos os fenômenos fisiológicos que afetam especificamente as mulheres: a menstruação, a primeira relação sexual, gravidez e, claro, o parto. Qualquer conversa entre amigos ou colegas em torno destas questões surge incansavelmente este mal, com a complacência tranquila, como se fosse óbvio para todos que a dor é inerente à natureza feminina. No entanto, pensando um pouco (bastante) sobre o assunto, percebem-se muitas indicações que esta é essencialmente uma construção social e cultural.

Já no início da adolescência, as meninas levam uma pancada dos adultos “bem-intencionados” sobre todos os aspectos de sua condição dolorosa. Na escola, os planos de aula para os jovens sobre a puberdade e sexualidade contém a palavra "dor" associado exclusivamente com a fisiologia feminina. E mesmo o clitóris tendo surgido há não muito tempo em livros e folhetos sobre a sexualidade dos jovens e a palavra “prazer” já não é reservada exclusivamente para o mundo masculino, os módulos educacionais mais progressistas e igualitários continuam a associar o sofrimento apenas à sexualidade feminina. A palavra “dor” é sempre associada à primeira relação sexual feminina, o que nos leva a pensar que os meninos nunca vivem “a primeira vez”. Em seguida é a vez do aborto (que apesar de ser ilegal no Brasil e assunto para uma outra hora), abordado como uma “situação dolorosa” mesmo antes de abordar as doenças sexualmente transmissíveis. Portanto, não é surpreendente quando se ouve muitas adolescentes dizerem que “ser menina é um problema”. 



A concussão não acaba na adolescência, não há trégua para as mulheres na fase adulta. Elas serão regadas de informações oficiais de saúde sobre todos os males da gravidez e, é claro, sobre o sofrimento incomensurável que enfrentarão durante o parto.

A associação entre dor e feminilidade também se manifesta por convenções sociais. Não é mal vista uma menina que solicita a ausência das aulas de educação física evocando o sofrimento relacionado com a sua condição, porém ela não pode usar do mesmo argumento para contemplar a “ascensão” à fase adulta. Espera-se que uma adolescente confesse seus medos em relação às dores da primeira relação sexual, mas é inconveniente que ela revele seus desejos ardentes de aproximação carnal com os meninos em sua classe. É normal para uma mulher grávida lamentar-se com seus colegas sobre a sua dor nas costas, mas é indecente que diga a sua excitação produzida pelos movimentos do feto em seu ventre. E quando se trata de descrever o seu parto, é conveniente que as mulheres narram, sem o menor constrangimento e com um monte de detalhes e superlativos, todas as torturas que elas suportaram, mas que seria incongruente descrever o poder de sensações e ondas de prazer que sentia naquele momento.

Tudo contribui por normas sociais que a dor está associada ao sexo feminino. Enquanto a sociedade ocidental impõe à capacidade dos homens de suportar a dor como um sinal de virilidade, ela exorta às mulheres a mergulhar na dor para afirmar sua feminilidade. Ainda mais especificamente, ser um homem é capaz de realizar grandes ambições e vencer batalhas considerando a dor como uma anedota. Ser uma mulher a dor está em primeiro plano, como o elemento essencial da vida, substituindo todas as outras considerações, a ponto de aniquilar qualquer negócio.

Na verdade, a dor da menstruação pode impedir o acesso das mulheres aos mais elevados cargos de remuneração igual aos homens por sua suposta indisposição durante vários dias por mês. Várias indisposições explicam a falta de interesse da mulher ao sexo, e mascaram toda a consideração sobre a magia e maravilhas do processo de gravidez. O sofrimento se torna a questão central do parto, a ponto de negar a capacidade intrínseca das mulheres de colocarem suas crias no mundo e esquecer a essência da recepção desse novo ser.

Embora seja apenas uma construção cultural e social, a dor é muito real em muitas mulheres, e não deve ser negada pelo consentimento "isso é coisa da sua cabeça." A exaltação do sofrimento impulsionado ano após ano, as crenças geradas e a construção identitária que ela implica produzem uma impregnação no corpo das mulheres mais forte do que um simples pensamento racional. Se o ambiente cultural e social pode impor às mulheres esse mal, ele poderá também mudar permitindo-lhes viver sem esses tormentos.

Fernand Lamaze e Grantly Dick-Read foram dois obstetras que trabalharam intensamente a forma de nascimento e fizeram parte de um longo caminho que ainda é preciso percorrer. Com eles milhares de mulheres em trabalho de parto puderam dar à luz sem dor a partir de uma preparação a fim de desconstruir a imagem cultural de partos dolorosos e assustadores. É possível ir mais longe na luta contra o próprio princípio da dor como um componente da identidade feminina e substituí-lo com valores positivos.