segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Por que seu bebê não te deixa dormir uma noite inteira?


Como está seu bebê? E então, ele dorme a noite inteira? Quem nunca ouviu essa frase durante várias semanas (e por que não meses) de um bebê? Todos os bebês têm um ponto em comum: eles dormem pouco durante várias semanas e acordam mais rápido do que a gente gostaria. 
Então fica aqui para entender um pouco mais sobre esse funcionamento dos pequenos seres humanos. 

Na internet é possível encontrar váaaaarios fóruns e grupos de mães que se questionam e buscam soluções para que seus bebês durmam de 5-6 h seguidas. E há também umas centenas de "profissionais" que ensinam truques de como conseguir essa proeza. 

Mas, a realidade é que os bebês devem acordar a noite, e isso é mesmo uma boa coisa para eles, vejamos alguns motivos:

1.Por que os bebês acordam a noite? É a coisa certa a se fazer! 
Isso faz parte do desenvolvimento biológico natural do bebê, mesmo que ouvir isso não nos alegre (afinal, quem não gosta de umas horinhas consecutivas de repouso?), é a pura verdade. Hoje não há nenhum estudo que prove que um bebê que durma a noite inteira (sim, eles existem) tenha alguma vantagem em relação ao seu próprio desenvolvimento [1] (porque, claro, pra essa mãe e esse pai: que sorte não?). 
[1] K. Pollard, P. J. Fleming, J. Young, et al., Early Human Development 56 (1999): 185-204.

2.Na realidade não há ninguém que durma uma noite inteira ininterrupta, nem mesmo adultos.  
Na época em que os humanos eram caçadores-coletores, os homens faziam períodos curtos de sono de cerca de 2 horas antes de acordarem e voltavam a dormir algumas horas mais tarde. Na realidade, o que não é normal é trabalhar 8 horas seguidas por dia e ter de dormir uma noite inteira ininterrupta. Nós temos maus hábitos. Essa é a opinião da psicóloga Darcia Narvaez [2]. A gente acha que deve-se dormir no mínimo 8 horas por noite, mas na realidade, ninguém dorme continuamente, a gente acaba por despertar algumas vezes mesmo que não se dê conta. Acontece que os bebês estão ainda no estado natural e não se habituaram a nossos hábitos bizarros.
[2] Dra Darcia Narvaez é psicóloga e escreve em

3.Bebês humanos nascem mais cedo do que os outros mamíferos.
Sendo assim, eles precisam de mais contato e proteção a fim de se sentirem seguros.
Bebês humanos nascem de 9 a 18 meses mais cedo do que outros mamíferos comparando-se o desenvolvimento dos mesmos no momento do nascimento. Outros animais são capazes de comer e até mesmo de andar tão logo nascem. Nós, ao contrário, possuímos ainda uma aparência de feto, porque é exatamente o que ainda somos ao nascer (podemos assim dizer). Ao nascer, um bebê tem apenas 25% do seu cérebro de adulto desenvolvido. Nas primeiras semanas, ele precisará de muita atenção, proteção e cuidado para desenvolver-se bem.

4.Os bebês que acordam muitas vezes são geralmente considerados inteligentes e com uma boa saúde mental.
Os bebês que possuem um contato regular com seus pais (ou cuidadores) e que possuem suas necessidades rapidamente atendidas desde o momento do apelo costumam ser mais empáticos, sabem gerir melhor frustrações. Há especialistas que defendem que são crianças com melhores resultados cognitivos e que possuem menos tendência a depressão.

5.Os bebês possuem ciclos de sono mais curtos do que os adultos.
Os adultos possuem um ciclo de sono de cerca de 90 minutos, além disso, adultos despertam a noite e voltam a dormir quase que instantaneamente, sem se darem conta que acordaram. Já os bebês, possuem ciclos de 60 minutos, acontece que eles têm, muitas vezes, dificuldades em voltar a adormecerem sozinhos. Por isso que os bebês acabam chorando, a fim de que nós, mãe ou pai, viemos ao seu encontro ajudá-los a encontrar o país dos sonhos.

6.Um bebê precisa de nós, seus pais, para ficarem calmos.
Já sabemos que deixar um bebê chorar não é uma boa ideia. Há estudos que demonstram que isso pode eventualmente diminuir o efeito de stress dos pais, mas que os bebês se encontram tão stressados como nunca. O choro significa que o bebê está em perigo e ele clama por ajuda [3]. Sentir que nós não iremos acolhê-los gera um sentimento de abandono e ele pode pensar que irá morrer.
[3] Dr Catherine Gueguen em “Por uma infância feliz”. Pocket, 2015. Paris.

7.Os bebês precisam de toda nossa atenção, tanto de dia como de noite.
Mas por que os bebês dormem tanto durante o dia e não nos deixam dormir a noite? Eles não poderiam ter boas noites de sono como todo mundo?
E... Infelizmente não é bem por aí. Tipicamente os bebês gostam muito de dormir durante o dia, e gostam também de estarem acordados durante o período de 18h a meia noite. Isso se explica biologicamente, porque é o momento onde o corpo está menos ocupado e por coincidência quando a maior parte de nós, mães e pais, estamos também “desocupados” para cuidarmos com amor e atenção deles. O problema é que isso não se encaixa muito bem em nossos hábitos de vida do novo século.

8.Os bebês não deveriam estar separados de seus pais.
Seria ideal que os bebês dormissem em nosso quarto ou até mesmo em nossas camas. A gente pode perceber bem isso na evolução da espécie, as mães não são jamais separadas de seus bebês. Aliás em alguns países do mundo, mães carregam seus bebês nos braços por quase 24h. Isso facilita o aleitamento, e o bebê pode dormir quando ele tem vontade e independente do lugar. Ele sempre estará seguro nos braços da mamãe.

9.Os bebês possuem uma necessidade vital de contato físico, por isso eles se irritam tão facilmente quando não estão em nossos braços.
Cerca de 80% dos bebês que nascem no mundo dormem com seus pais nas primeiras noites, e isso não tem nada de anormal. É assim que vem acontecendo desde séculos na humanidade. É a nossa sociedade moderna que é estranha. Evidentemente, não é possível estar com nosso bebê o dia inteiro, principalmente para as mães que trabalham. Mas não podemos esquecer que é super importante que prezemos pela qualidade de contato com nossos bebês o máximo possível!

Pronto! Agora, mãe, você pode se acalmar, porque é exatamente normal que seu bebê não queira dormir somente nos momentos em que você desejaria (ou precisaria) que ele dormisse. 

sábado, 16 de janeiro de 2016

Receita da amamentação.




Nome comercial: Mamá ou Tetê

Principio ativo: Leite Materno Humano 

Composição: 
Variável. Varia de mulher para mulher, de mama para mama, de mamada para mamada e durante a mesma mamada, mas ajusta-se sempre ao que o bebê necessita em cada momento. 

Excipientes: 
Contato físico, contato visual, calor, cheiro da mamãe, batimentos cardíacos, sorrisos, caricias, amor.

Indicações: 
Como alimento exclusivo durante os seis primeiros meses de vida de todos os bebês: saudáveis, doentes, nascidos a termo, prematuros, adotados, etc. Como base da alimentação e tratamento de primeira linha contra qualquer queda, choro, doença ou quadro de insônias até aos 2 anos de idade ou mais. 

Contra-indicações: Nenhuma.

Posologia: 
Administração por via oral e a pedido, em vez de, ou antes de qualquer outra refeição. Prestar atenção à forma como o bebê  pega na mama. Se tem dúvidas  consulte um grupo de apoio à amamentação mais perto de si. 

Intoxicação ou superdosagem: 
O leite materno não é tóxico, não pode produzir intoxicação. Não há casos descritos de superdosagem. Pela sua natureza e forma de administração, a mãe pode administrar tantas doses quanto desejar ao longo do dia. 

Efeitos adversos: Não descritos.

Apresentação: Embalagem de duas mamas autorrecarregáveis. 

Preço: Gratuito. Não se vende em farmácias.

Condições de prescrição: Sem receita médica.

Avisos: Deixe sempre ao alcance das crianças.

USE E ABUSE! 

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ESCLARECIMENTO:
 A OMS e a UNICEF expressam a importância da amamentação prolongada na "Declaração de Innocenti" de 1 de Agosto de 1990 nos seguintes termos:

"Para otimizar a saúde e a nutrição materno-infantil, todas as mulheres devem estar capazes de praticar o aleitamento materno exclusivo e todas as crianças devem ser alimentadas exclusivamente com leite materno, desde o nascimento até aos primeiros 6 meses de vida.

Até aos dois anos de idade, ou mais, mesmo depois de começarem a ser alimentadas adequadamente, as crianças devem continuar a amamentação."

E pronto tenho dito! =)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Carta para minha amiga grávida!

Engraçado como que as vezes na vida tudo acontece em grandes blocos... No ano que antecedeu o meu casamento e o ano propriamente dito, eu fui a dezenas de casamentos, de amigos e familiares. E não é somente porque é a idade, sinto basicamente como uma coisa de atração, conexão. Claro, anos antes e os que seguirão, haverão também dezenas de outros. O que me intrigava eram pessoas próximas que, como numa grande onda de conexão, estavam a realizar um momento importante de suas vidas: a escolha de um parceiro para dividir a vida. 
E muito surpresa, um ano depois, um outro boom: várias mulheres grávidas. Dessa vez achei que era um baby boom no Brasil. Mas incrivelmente me dei conta de novo dessa sensação. No meio da minha gravidez me mudei para França e incrivelmente no meu novo trabalho éramos 4 grávidas, 2 que já estavam de licença maternidade, e ao retornar da minha licença mais 3 grávidas. Incrível não? E eu sentia uma enorme vontade de conversar com todas elas sobre todas as maravilhas e descobertas que passei e ainda passo desde o momento da minha gravidez. 
E então, hoje, compartilho com vocês, e principalmente para futuras mães, essa carta que diz simplesmente tudo que eu gostaria de dizer a cada mulher que gesta um ser!
Boa leitura!
Para minha amiga grávida,
Assim que soube que você estava grávida, fiquei feliz, mas, me despertou certa agonia. A primeira dúvida: você sabe que tem escolha? Sabe que não precisa fazer “o que todo mundo faz”? Agoniada com minhas dúvidas sobre o quanto você está informada sobre os temas gestação, parto e maternidade, comecei a questionar. Preciso entender o quanto está pronta para desaprender o que, de forma massiva nos ensinam, para, então, ouvir o que ninguém (ou quase ninguém) conta. Hoje me encontro neste delicado papel de ser a pessoa que quer revelar, mas, ao mesmo tempo, não quer invadir seu espaço, ou te desiludir neste momento mágico e sensível e, principalmente, não quer perder sua amizade. Você é importante para mim e este assunto também. Preciso encontrar um jeito de cuidar das duas coisas, por isso escrevo esta carta.
Seu parto
Ao menos que você lute, que se informe, que se prepare muito, internamente, e principalmente de forma prática, cercando-se da equipe certa, é difícil ter um parto legal. Você pode até ter um parto normal, daquele tipo em que fazem um monte de procedimentos desnecessários com você e seu bebê, como, por exemplo, corte do cordão umbilical antes de parar de pulsar e corte com bisturi no seu períneo (episiotomia). Entretanto, o mais provável mesmo é que você seja submetida à uma cirurgia que não queria. E por um tempo pode acreditar que esta era a melhor (e a única) forma segura do seu filho nascer. Mas também poderá se sentir frustrada, chateada e até traída.
Vínculo
Por que isso importa? A começar, porque o vínculo com seu bebê pode ser comprometido em função desta não-escolha que você fez, que fizeram por você, de ser cortada. Pior, seu bebê será incomodado e pode sentir-se abandonado se, na hora do nascimento, for tratado como são quase todos os que não tem um atendimento humanizado. Tratado como mais um. Segurado pelas pernas como frango, seus olhos sendo abertos a força para receber o inútil e ardido colírio na primeira hora de vida, seu corpo esfregado, aspirado, ensaboado e manipulado –  muito, muito mais do que ele precisa – e, pior, afastado de você. Sim, ele acabou de nascer, mas, ao menos que você planeje meticulosamente e se empodere de seu parto, ele não irá para os seus braços. Mesmo sendo óbvio que você é a mãe e que isso é tudo que vocês dois precisam, se for aqui no Brasil, o caminho mais comum do protocolo não leva a você. Infelizmente pode ser que ele conheça várias outras pessoas e ambientes antes de sentir seu cheiro e seu toque. Pessoas que ele poderia perfeitamente conhecer depois, ou mesmo nunca. E, acredite, pode até ser que ele seja alimentado, longe de você e sem seu consentimento. É estranho, é frio, é assim que acontece.
Outra forma de nascer
Então esta carta é para dizer que há sim uma outra forma de começar. Há uma gravidez em que é menos importante a decoração do quartinho, o modelo do carrinho ou o enxoval. Uma gravidez em que o foco é na sua ligação com o bebê, no olhar para dentro, na busca pela equipe humanizada e pela doula, no exercício de criar coragem para romper com o sistema. Uma gravidez em que nunca é cedo para conversar sobre o parto, em que o bebê não é grande demais e não fica pronto em quarenta semanas. Ele está pronto quando estiver e virá como quiser. Uma gravidez em que tudo flui bem, pois seu corpo foi feito para isso. A gestação em que você prepara menos a cabeça e mais o períneo. Que termina com você sentindo contrações, passando horas na partolândia, ficando na posição que tem vontade e, finalmente, seu bebê nascendo com você e através de você. Ah, sim, e o profissional de assistência ao parto está ali, próximo, sem quase nada fazer, a não ser, assistir. Nesta história o bebê vem imediatamente para o seu colo, e só sai quando você quiser. O pai participa ativamente do parto e do encontro com seu filho. Muitas vezes não há médicos, apenas parteiras e doulas. Não há remédios, ninguém é medicado, porque não temos doentes, apenas uma mãe e um bebê que acabaram de nascer. Você se levanta horas depois de parir e pode fazer o que bem quiser, está inteira e disposta. E, ao chegar em casa, confiante, saudável e caminhando, se sentirá segura para decidir como quer que seu bebê durma e o quanto quer ficar conectada com ele. Terá tranquilidade. Talvez não demore a perceber que amamentá-lo o tempo inteiro – ao contrário do que dizem – pode ser muito compensador e prazeroso. Aliás, o parto mesmo pode ser cheio de prazer, e é normalmente relatado pelas paridas (me incluo) como uma experiência maravilhosa, muito mais associada à superação e à descoberta do potencial feminino do que à dor ou ao sofrimento. Prazer em parir, em maternar, em amamentar, prazer em dizer “não, muito obrigada”, às soluções enlatadas do sistema. Muito prazer.
As trilhas
Ufa! Acho que era isso que eu queria te contar. Há escolhas e há algumas trilhas para atravessar o portal da maternidade. Como mãe e amiga, estou aqui, do outro lado, a te esperar, e ficarei muito feliz se te vir chegando pela trilha do prazer, da maternidade do aconchego, do vínculo, do instinto, da mulher que permite que sua natureza feminina aflore. Se, no entanto,  você vier pela outra trilha, aquela com corte e cicatriz, mais longa, mais tortuosa, ainda assim, te espero por aqui, seja bem-vinda, futura mãe. Que bom que você está chegando! Fique tranquila, você não está sozinha. Conte comigo.

Essa carta foi escrita por Camila Goytacaz e está também disponível aqui.
Se você deseja saber mais sobre a trilha de gestar, parir e maternar, além de se apoiar em seu coração, você pode nos contactar a partir desse site ou nos enviando e-mail para: depoisquepari@gmail.com 
Aqui você encontrará uma escuta empática, sem julgamentos e baseada nos ensinamentos da comunicação não-violenta.