quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Semana Aleitamento Materno 2015 - Capítulo III




Nessa Semana Mundial da Amamentação, trazemos uma série de textos escritos pelo pediatra Daniel Becker, médico pediatra com experiência de 20 anos de consultório privado no Rio de Janeiro. Formado pela Universidade Federal de Rio de Janeiro, especialista em Homeopatia e mestre em Saúde Pública, na área de Promoção da Saúde. Médico do Instituto de Pediatria da UFRJ. 
Voce pode ter acesso a ele a partir de seu site www.pediatriaintegral.com.br 

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O terceiro texto da saga da amamentação. Explica melhor os mecanismos pelos quais a industria médico-hospitalar (especialmente a obstétrica) se interpõe entre mães e bebês interferindo na amamentação. E como buscar alternativas...
A Maternidade Mal Assombrada
O terceiro capítulo de nossa saga: agora o império hospitalar.
Uma outra causa frequente da dificuldade de amamentar é o excesso de cesáreas, do qual tanto falamos aqui no Pediatria Integral: um crime contra o qual a mulher e a sociedade brasileira finalmente começam a reagir. Na verdade já falamos em cultura da cesárea, já que – do mesmo modo que na cultura do leite em pó – as mulheres foram envolvidas pelos mitos criados pela obstetrícia e hoje em dia muitas pedem para marcar sua cesárea acreditando que ela é melhor. Sequer esperam pelo sinal de que seu filho está pronto para nascer: em vez de esperar o trabalho de parto, cesáreas são marcadas por conveniência, com base em dados de ultrassonografia ou idade gestacional muitas vezes falhos, sujeitos a grandes erros – e haja vaga para prematuros nas UTIs. Promessas de parto natural não cumpridas, equipes que constrangem mulheres em trabalho de parto um pouco mais prolongado a concordarem com a cesárea, não aceitação de acompanhantes…. são muitas histórias, algumas aterradoras.
As alegações se transformam em crenças, crenças em verdades absolutas: parto normal é perigoso, não podemos esperar o trabalho de parto, dói demais, algo terrível pode acontecer se o bebê começa a sair, já tem 40 semanas, podemos não encontrar vaga (e você vai parir na rua?), podemos ficar presos no trânsito, o bebê pode ter uma circular, não está descendo, não está dilatando, dói demais, você já fez cesárea antes e não pode mais ter parto normal, pode romper o útero, o períneo, ficar larga demais… Um monte de mentiras que adquirem valor de verdade depois de repetidas milhares de vezes. Cria-se uma cultura onde o parto normal é algo a ser temido, perigoso.
O fato é que no setor privado, no Rio de janeiro, 93 % dos partos são cesáreos (contra 15 a 20% em países “normais” como França, Holanda, Dinamarca, etc). Uma grande cirurgia, que deixa a mulher muitas vezes com mais dificuldade de amamentar: retarda o leite, tem resíduos anestésicos, trauma cirúrgico, dor, complicações desnecessárias, remédios desnecessários. A mulher em pós trauma cirúrgico, dolorida por cortes profundos em seu corpo, anestesiada e cheia de remédios circulando em seu organismo tem em geral menos condições físicas e emocionais para iniciar a amamentação. E a cesárea muitas vezes envolve um bebê arrancado do útero cedo demais, antes do trabalho de parto natural, e que acaba numa UTI, ou com dificuldades de sugar. Além de outras desvantagens já bem documentadas para a mãe e o bebê.
Mesmo o parto normal é medicalizado: na pressa gerada pela conveniência de médicos e hospitais, o uso de ocitocina é frequente, e pode gerar complicações para o feto: assim como a posição deitada, que comprime as artérias, a falta de acompanhante. As complicações do parto normal estão na maioria das vezes ligadas a procedimentos inadequados que são feitos contra trabalhos científicos, apenas por “tradição ou conveniência”. Sem falar na ocorrência comum da violência obstétrica, sofrida por 25% das parturientes n Brasil. Leia sobre o tema.
Na maternidade, seja no parto normal ou cesárea, é comum o bebê ser afastado da família, ser colocado numa gaiola de vidro por 2 hs. (não tem sentido, a não ser em casos muito específicos), ser levado para o berçário e só vir à mãe horas depois. Muitas vezes chora no berçário e acaba ganhando uma mamadeira de presente de auxiliares de enfermagem ávidas de paz e silêncio. Nas primeiras 24-48 horas o seio produz colostro, que flui devagar, em pequenas quantidades mas é extremamente rico em nutrientes e defesas. Como o fluxo é lento, o bebê suga o tempo todo. E não é que aparece alguém para dizer “olha aí, ela não sai do peito, deve estar com fome… vamos dar uma mamadeirinha?”. Foi-se a confiança, foi-se colostro, começa a confusão de bico e um ciclo vicioso se instala, que tantas vezes termina no desmame.
Alguns antídotos: acredite em você, no seu leite. Sim, você pode – com o devido apoio. Verifique ao menos se seu obstetra faz partos normais – muitos deles hoje em dia simplesmente só fazem cesáreas (lembrando – o parto cirúrgico existe para salvar vidas e evitar complicações em situações de alto risco, não para ser um procedimento padrão a priori). Converse com o pediatra do parto no pré-natal, pergunte a ele sobre amamentação, e de que forma ele pode ajudar você a amamentar. Se ele parecer não dar muita importância à questão… pense em mudar.
E muito importante: sempre que precisar, procure instituições, grupos ou profissionais especializados no apoio à amamentação.
No próximo capitulo: a vida moderna e as dificuldades para amamentar. A solidão e o sufoco. A arrogância da nossa civilização e as dificuldades da mulher nos cuidados com o bebê. A teoria do campo de possibilidades: tudo pode acontecer entre uma mãe e seu bebê; o importante é poder se situar, e encontrar a ajuda apropriada.

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