quarta-feira, 29 de julho de 2015

Gestando-me para renascer

Sim, o puerpério é hard mas eu hoje vou falar da gravidez. O puerpério deixarei para um outro momento, quando inclusive me sentir mais preparada.


Foram 40 semanas e 1 dia de um período super difícil, de uma gravidez surpresa, mudança de país e emprego novo. Tantos questionamentos e excessos de cobranças, pessoais e ao companheiro. 
Pirei. 
Me senti sozinha. 
E claro, me culpava, a culpa me tomou por inteira e minha reação ultrapassou qualquer controle que eu poderia ter sobre mim mesma. 
Foram incessantes crises raivosas, gritos, esperneios, e inquietações. E de novo: culpa, culpa, mais culpa. Afinal, nós mães precisamos ser felizes, alegres e radiar contentamento e amor...
Tive muito medo.
E toda minha raiva era evacuada com agressividade, sobretudo contra mim mesma, porque em seguida o arrependimento tomava conta de mim. E também contra o companheiro. 
E lá se foram livros rasgados, copos e pratos quebrados, computador no chão e muita muita gritaria. 
E em seguida vinha a dor. 
Sou fruto de uma criação muito rígida, severa e com nenhum pouquíssimo diálogo, daquelas em que o medo respeito é passado mesmo pelo olhar. Tolerância nunca foi o forte dentro da minha casa, e isso eu vim trazendo comigo.  Isso é tudo o que não quero para meu filho, pensava. 
E como é dolorido perceber que quando padrões foram inseridos à base do exemplo eles nos tatuam. 
Busquei tanto um abraço, uma palavra de acolhimento, mas tudo era tão distante, tão superficial. Aqueles que eram reais pareciam não me entender, sentia-me cobrada, cobrada a viver alegre esse que deveria ser o meu momento mais feliz. E por ironia, foi virtualmente que encontrei empatia, compreensão e aonde pude ser eu mesma sem me esconder ou ter medo de ser julgada! 
Foi um momento de múltiplas gestações, além do fruto em meu ventre, preparava-se também para ser parida a minha sombra, da qual precisava acolher e aceitar. 
Os nove meses passaram sem nenhuma sequela física, mas o emocional sofreu, sofre e ainda sofrerá muitas transformações, porque eu estou disposta a viver esse luto, e seguir a minha vida-morte-vida! Afinal parir é morrer, e nascer é morrer ao contrário. E por isso, depois que pari, eu renasci! 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Castigos são inúteis!

Texto de Ana Cristina Marques



O renomado pediatra espanhol Carlos González incentiva os pais a quebrarem as regras “absurdas e falsas” e considera os castigos “inúteis”. A disciplina, por sua vez, é tida como uma “qualidade interna” e não a consequência de repreensões. Para Carlos González, as crianças devem ser tratadas com mais respeito do que os adultos: podem dormir na cama dos pais, se assim o entenderem, e não devem ser obrigadas a comer (as verduras, ao contrário do que seria de esperar, não são exceção ). Acima de tudo, têm de ser amadas.
Pegar os filhos no colo e consolá-los quando choram são algumas das ideias defendidas pelo pediatra espanhol que, apesar de ser conhecido pela irreverência, não se acha polêmico nem contra-corrente. Licenciado em medicina pela Universidade Autônoma de Barcelona, Carlos González é o fundador e presidente da Asociación Catalana Pro Lactancia Materna (que defende o aleitamento materno).
Mas também é escritor: entre os muitos livros, destaque para o popular Mi niño no me come, de 2002.  Uma nova edição de Bésame Mucho – Como criar os seus filhos com amor chegou em junho de 2013 e Pergunte ao Pediatra estreou-se no mercado nacional em janeiro deste ano.
Ironia ou não, o autor considera desnecessários livros para educar uma criança. O instinto natural pode muito bem ser a solução: está casado há mais de 30 anos e é pai de três – “foram eles que me ensinaram a educar um filho”.


– Já disse várias vezes que, na sua opinião, não são precisos livros para educar crianças. Não é um pouco contraditório tendo em conta que é um autor bem sucedido?
Menos contraditório do que parece. Escrevo livros e digo que não é necessário comprá-los ou lê-los para criar um filho. O problema é que, há décadas, a maior parte dos livros que foram publicados em Espanha sobre a paternidade diziam coisas com as quais eu não estava de acordo – nem eu nem a maioria dos cientistas que lidam com o assunto; os livros sérios sobre psicologia ou pediatria eram muito diferentes daqueles destinados aos pais. Por essa razão, decidi escrever livros com informação razoável para que os pais possam ter por onde escolher.
– O amor é a regra de ouro na educação? Por que acha que muitos profissionais alegam que o afeto deixa a criança mais mimada e dependente?
Defendo que devemos tratar os nossos filhos com carinho e respeito. Não penso que algum profissional esteja contra estes princípios. O que se passa é que alguns pensam que podem amar os filhos sem ter de lhes pegar no colo ou consolá-los quando choram. Isso coloca um problema: como é que a criança sabe que gostam dela se ninguém o demonstra? Nós, adultos, demonstramos o nosso amor fisicamente: abraçamos os amigos e beijamos os cônjuges. Não é suficiente dizer a um namorado ou namorada “amo-te”. Um adulto necessita mais do que palavras para se sentir amado e um bebé, que não as entende, ainda mais.
– Defende que as crianças podem dormir na cama dos pais.
As crianças pequenas despertam várias vezes durante a noite, quase a cada hora e meia ou duas horas, sobretudo entre os quatro meses e os dois ou três anos. Para os pais é muito incómodo terem de se levantar três ou cinco vezes por noite para cuidar do filho. Por isso, muitas famílias descobrem que é mais cómodo dormirem todos juntos.
– Mas quais os benefícios das crianças em dormir com os pais?
Benefícios? Muitas crianças gostam de dormir com os seus pais e vice-versa. Esse é o benefício: são felizes e dormem tranquilos. Mas também pode haver crianças ou pais que prefiram dormir sozinhos. Basicamente, há três maneiras de se organizarem para dormir: a criança pode ficar no seu quarto, no dos pais, mas no seu próprio berço ou cama, ou na cama dos pais. Estas três formas combinam-se de mil maneiras. O importante é que os pais compreendam que têm o direito de decidir sobre a maneira que melhor funciona para todos e que não são escravos da sua decisão, que podem mudar de ideias.
– Para si, não se deve obrigar uma criança a comer e não faz mal se esta não comer vegetais. Porquê?
As crianças pequenas não costumam comer muitas verduras. A verdura é baixa em calorias e simplesmente não caberia na barriga toda a quantidade que teriam de comer. Ao invés, as crianças devem procurar alimentos de alto teor calórico: massa, frango, arroz, pão… Com o tempo, o gosto muda. Atualmente, todos comemos coisas que em pequenos não gostávamos, a menos que os nossos pais tenham insistido tanto que nos fizeram odiar verduras. Os vegetais são muito saudáveis, mas o importante não é quantos vegetais comemos aos nove meses, mas sim durante toda a vida. Obrigar um bebé a comer muita verdura, fazer com que este a odeie e, de seguida, deixar de tentar é um desastre. Se o deixarmos estar, comerá pouco na infância e, uma vez crescido, comerá mais.
– Não acredita nos castigos e na imposição de limites. A criança não precisa de, em tenra idade, ter regras?
Os castigos são inúteis, tanto para as crianças como para os adultos. É claro que é preciso impor limites aos mais novos. Todos os pais o fazem. O que digo é que os limites lógicos e razoáveis são impostos pelos pais sem que ninguém diga nada. Não deixamos os nossos filhos brincar com o fogo ou com facas. Rejeito os limites que não considero lógicos ou razoáveis, que não se colocam por necessidade ou para evitar quaisquer danos, mas que apenas servem para demonstrar “aqui sou eu que mando”.
– O que é um castigo razoável?
Não existe o castigo razoável.
– Como se lida com crianças desobedientes e manipuladoras?
O que fazemos com os maridos ou esposas que são desobedientes ou manipuladores? Com os namorados, amigos, parentes ou empregados? Será que os adultos nunca fazem nada de mal? Claro que sim, mas não os punimos (a não ser que cometam um delito que apenas os juízes podem punir). Eu não castigo a minha esposa ou os meus amigos, vizinhos, taxistas… Como médico não castigo os meus pacientes nem a minha enfermeira. Porquê castigar apenas os meus filhos? Que terão feito eles de tão terrível para merecerem um castigo? É absurdo. É curioso que se fale de crianças “manipuladoras” quando estamos precisamente a falar de colocar regras e limites a crianças. Isto é, para manipular. Nós manipulamos as nossas crianças, compramos livros que explicam como fazê-lo… e os “manipuladores” são eles?
– O pediatra norte-americano Thomas Berry Brazelton defende amor seguido de disciplina. Como comenta?
O problema prende-se com o significado de disciplina. Falamos, por exemplo, de “disciplinas olímpicas” ou de um pianista “disciplinado” que ensaia todos os dias. A disciplina é uma qualidade interna das pessoas. A disciplina não é gritar ou castigar.
– O que Brazelton diz é que não se controlam as crianças, mas que se deve ensinar autocontrolo às mesmas. O que é, então, para si a disciplina? E qual o seu papel na educação de uma criança?
Exatamente, autocontrolo. As crianças são controladas e isso é precisamente o oposto de nós nos autocontrolarmos. O autocontrolo ensina-se com o exemplo. Eu não bato nos meus filhos porque tenho disciplina, autocontrolo. Não digo ao meu filho para se calar porque não me deixa ouvir televisão, ao invés desligo o televisor para ouvi-lo melhor. Isso é a disciplina.
– Para que as pessoas entendam melhor as suas ideias, muitas vezes compara crianças com adultos. Costuma funcionar?
Espero que sim. As crianças não são adultas, mas são parecidas. E, em todo o caso, precisam de mais respeito do que os adultos, porque são mais frágeis. Precisam de ser mais toleradas porque são inexperientes e ignorantes, podem cometer erros. Muitas vezes castigamos ou repreendemos as crianças por coisas que nunca puniríamos num adulto. Se vejo a minha esposa ou um amigo a chorar, pergunto o que se passa e tento consolá-los. Para os meus filhos é igual. Se estou a comer com um amigo e vejo que este deixa metade da comida no prato, não o obrigo a acabar tudo. Com os meus filhos também não faço isso. Jamais bateria na minha mulher, no meu pai ou em companheiros de trabalho. Muito menos nos meus filhos.
– Vê-se como um pediatra que incentiva os pais a quebrarem as regras? Porquê?
Só as regras absurdas, as regras falsas. Estou completamente de acordo com o circular pela direita ou com lavar os dentes depois de comer. Defendo várias regras fundamentais: nunca bater nas crianças, não insultar ou humilhar… Mas se alguém propõe regras ridículas, como “não pegar a criança ao colo” ou “não consolá-la quando chora”, então digo para os pais ignorem essas regras, porque são estúpidas.
– As suas ideias podem chocar a comunidade de pais em geral? Gosta de ser polémico?
Nem por isso, acho que maioria dos pais concorda fortemente com as minhas ideias. A maior parte deles amam os filhos e querem demonstrá-lo. Alguns acreditaram na regra de “não pegar a criança ao colo”. Tentaram colocá-la em prática, mas custou-lhes. Quando ouvem que não é necessário sacrificarem-se, que podem abraçar o seu filho sempre que lhes apetecer, sentem-se libertos.
– Acha que contribui para reduzir a culpabilização dos pais?
Espero que sim, embora seja muito difícil. Os pais (bem, as mães) tendem a sentir-se culpados por tudo.
– Não é a favor das creches, porquê?
Estou convencido que as crianças pequenas, até aos três anos, mais ou menos, estão melhor com os seus pais do que em qualquer outro lugar. A não ser, claro, que tenham maus progenitores, que os maltratem ou ignorem. Mas estou seguro que os nossos leitores são excelentes pais, que amam e cuidam dos filhos.
– Imaginemos uma criança que vai para a creche desde pequena, em vez de ficar com os pais. De que forma é que isso pode influenciar o seu desenvolvimento?
A criança vai, provavelmente, chorar porque não se quer separar da mãe. Se chora é porque algo está errado e a criança está a sofrer. Penso que é importante que os nossos filhos sejam felizes. Além disso, na maioria das creches, pelo menos em Espanha, há muito pouco pessoal. A nossa legislação permite que oito bebés, com menos de um ano, estejam ao cuidado de uma só educadora de infância. Em casa, há um ou dois pais por filho. Isso permite uma interação muito maior e, consequentemente, um melhor desenvolvimento e aprendizagem.
– Disse algumas vezes que os pais devem guiar-se pelo instinto. Porquê?
Exato, algumas vezes. Não sempre. O instinto não é tudo. Somos seres humanos. Temos cultura, civilização, ciência…podemos fazer algumas coisas melhores do que guiados apenas pelo instinto puro. Mas também podemos torná-lo pior. O instinto permitiu aos nossos antepassados criar os seus filhos durante milhões de anos, antes de existir qualquer civilização ou cultura. O instinto não é perfeito, mas, geralmente, é muito bom.
– Como foi com os seus filhos? Adotou todas as ideias que defende ou na ltura era inexperiente?
Estou casado há 32 anos; os meus filhos têm 22, 26 e 30 anos. Criei-os o melhor que soube. Foram eles que me ensinaram a educar um filho. Aprendi a criar um filho lembrando-me, em primeiro lugar, como fui educado. Em segundo, ao criar os meus próprios filhos. É assim que aprende quase todo o mundo.
– É tarde demais para retificar alguns comportamentos errados, de pais para filhos?
Nunca é tarde de mais se isso é uma coisa boa. Todos os pais fazem coisas boas e más. Às vezes, alguns têm consciência dos erros. Todos os pais devem esforçar-se por fazer o seu melhor.
– Os pais levam os pediatras demasiado a sério?
Alguns sim, preocupam-se demasiado se o filho tem tosse ou se se passa algo sem importância. Em contrapartida, há muitos que não se preocupam que um bebé com menos de um ano passe dez horas diárias separado dos pais.


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Este texto de Ana Cristina Marques pode ser encontrado aqui: http://observador.pt/2014/05/26/todos-os-castigos-sao-inuteis-diz-o-pediatra-contra-carlos-gonzalez/

terça-feira, 21 de julho de 2015

Do que uma criança precisa de verdade?

Texto de Fernanda Furia.




Vinte anos atuando como psicóloga de crianças e de adolescentes. Quatro anos como mãe. Já vi e ouvi muitas coisas…
Mesmo assim, tenho ficado intrigada com um frequente comentário que muitas mães e pais de crianças pequenas têm feito atualmente.
“Meu filho precisa sentir desde cedo que a vida é difícil”.
De fato a vida é difícil. Para alguns mais… Para outros menos.
Todos nós, em algum momento da vida, seremos arremessados em um oceano de problemas e de situações sofridas.
E serão nestas situações que precisaremos acessar dentro de nós algo precioso e muito poderoso: experiências positivas vividas na infância. 

Lembranças impossíveis de serem lembradas. Mas possíveis de serem sentidas.
Bebês e crianças precisam vivenciar com regularidade momentos gostosos. Momentos que nutrem a alma em níveis profundos.
E que ficarão registrados para sempre. Como tatuagens na alma.
Eles serão as chaves para acionar a garra de viver necessária para superar as dores da vida.
Você deve estar se perguntando: Mas, que tipo de momentos são estes?
São os momentos em que a criança é atendida adequadamente nas suas necessidades. Sem muitas faltas nem grandes excessos.

Ser aquecida no momento certo. Ser alimentada sempre que necessário. Ser confortada com a voz calma da pessoa que cuida. Sentir o toque gostoso de quem a ama. Ser compreendida. Ser protegida. Ser corrigida. Sentir os limites do que é certo e errado. Ser respeitada nas suas diferentes emoções. Poder se encantar. Brincar livremente. Se divertir. Aprender brincando. Ver seus pais se divertindo também. Sentir o tempo sem tanta pressa.
Muitos pais e mães podem pensar: “Mas essa vida é muito boa! Desse jeito meu filho não estará preparado para enfrentar as dificuldades da vida quando ele crescer!”
 
Calma.
Você já parou para pensar que mesmo vivenciando todos estes momentos gostosos, ainda assim o seu filho já passa por algumas dores profundas?
Quando ele ganha um irmãozinho e perde a atenção exclusiva por ser filho único, quando ele se dá conta de que os seus pais não estão disponíveis para ele o tempo todo, quando um amiguinho prefere brincar com outro amigo, quando morre o seu bichinho de estimação, quando ele muda de escola ou ainda quando a sua avó preferida se vai… E junto se vão as comidinhas deliciosas, o colo aconchegante e a sensação de que na casa da vovó tudo pode….

Em tempos de profundas transformações no mundo, nossas crianças não precisam de tantas aulas de inglês, de tantos esportes, de tantos deveres de casa, de tanto conteúdo escolar, de tantas manhãs de sono interrompidas por horários escolares prematuros, de alfabetização precoce e nem de tantas expectativas por parte de nós, adultos.
Nossas crianças precisam, mais do que nunca, de momentos gostosos que possam nutrir as suas almas.
Precisam rechear seus bancos de dados internos com muitas experiências positivas de vida.
São estas experiências que darão à criança a capacidade de acreditar.
Acreditar que a dor vai passar, que ela pode confiar nas pessoas, que pode receber ajuda, que o mundo pode ser melhor e que um pouco de magia ainda existe…
Aí sim, quando a vida desafiar o seu filho de verdade, ele terá de onde tirar forças para enfrentar, resistir e se reinventar.

Eu, aos 40 anos de idade, já tinha perdido o meu irmão ainda na minha adolescência, todos os meus avós por diferentes razões, meu pai por uma doença brutal, meu sogro por um infarto fatal e minha mãe pela deterioração causada pela doença de Parkinson.
Ao longo desta jornada inominável fui buscar nas minhas vivências e brincadeiras de criança a força necessária para cuidar do meu filho ainda bebê e para me recriar profissionalmente.
A dureza da vida pode sim nos fortalecer. Mas são os momentos gostosos armazenados nos nossos poros que nos permitem enxergar esperança na dor.
É disso que as nossas crianças precisam de verdade.

Vamos encher nossas crianças de momentos gostosos.

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Também encontra este texto no site: http://www.playground-inovacao.com.br/do-que-uma-crianca-precisa-de-verdade/ no

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O sagrado feminino



Tenho andado intrigada com o ditado: "ser mãe é padecer no paraíso"! E confirmo: é mesmo! A não ser que você esteja rodeada de mulheres que passam pela mesma situação que a sua ou que numa rede de apoio de mulheres você busque um certo conforto, caso contrário o jargão mais comum é: Ah é assim mesmo, depois passa! Ser mãe é isso! Eu também passei bons bocados você verá e blá-blá-blá. Alooooou gente, se o que estamos precisando é de um pouco de compaixão, sensibilidade e empatia, você não está nos ajudando assim! Mais SORORIDADE por favor! 



E eu na minha incansável busca para a minha transformação diária enquanto mãe e pessoa, descobri um mundo maravilhoso que deveria ser buscado por todas as mulheres, no meu ponto de vista, independente de ser ou não mães. Estou encantada com o mundo do sagrado feminino. Estou aprendendo bastante, na minha aceitação, no reconhecimento do meu lado sombrio, na minha própria rejeição. Enfim, entrar nesse mundo me fez entender melhor quem sou e o que posso e devo fazer nessa minha passagem aqui nesse mundo. Isso que eu diria ser uma filosofia de vida, nos traz ensinamentos sobre nosso corpo, nosso emocional e nossos ciclos femininos, e ainda orienta de que forma podemos harmonizá-los com a natureza. É como se uma nova consciência me abraçasse. 




Você descobre, então, que ser mulher não significa que você deva ter um parto natural, amamentar ou se sentir bem na própria pele quando está grávida. Na verdade, o objetivo é entender como você traz seu amor e feminilidade para todas essas fases da vida. O valor está em aceitar a naturalidade das coisas, seu histórico de vida, vontades e capacidades. Aprendendo a se conhecer de forma mais profunda e a aceitar os acontecimentos da vida e a si mesma, as feridas começam a ser curadas e nós passamos a ser mais felizes, amáveis e únicas.



Compartilho com vocês um texto de tradução e adaptação livres (por mim) sobre o sagrado feminino e mistérios das mulheres, esse texto é de uma mulher que vem trabalhando com afinco sobre o empoderamento feminino, Leesa Wilson, e o texto original você pode ver aqui. 





As mulheres são lunáticas, podem apresentar alteração de humor com a lua, são regidas por ela. Se embalam em danças com as raízes, o sangue e as marés.
As mulheres cantam canções que somente a alma pode entender, e choram em uma língua esquecida há tempos.
As mulheres detêm a sabedoria em seu corpo, e dão a luz a sonhos com a velocidade das correntezas de um rio.
As mulheres sabem como serem fluidas.
As mulheres sabem quando é preciso deixar partir a dor, a dor que estava há tempos muito difícil para ser dividida.
As mulheres guardam os segredos escondido dentro de seus ossos, e deixam traços delas mesmas que suas filhas poderão descobrir quando elas desaparecerem. 
E se você já se perguntou por que as mulheres mudam de ideia como o vento... É porque elas aprenderam a se nutrir de coisas insaciáveis como as palavras, o perfume e o brilho da lua. 
As mulheres nasceram para abraçar, acalmar e reparar as quebras, a fome e a perda da inocência. É porque as mulheres andam como um lento rugido de trovão. 
É porque as mulheres passam uma eternidade tecelando veludos, velas e a magia de um tecido que não será jamais alterado. Apesar das noites passadas em claro em busca do selvagem, os desejos melancólicos, das manhãs cheias de tarefas sem fim, é uma vida inteira a criar amor para os outros. 
As mulheres sabem as razões pelas quais as estações devem mudar, e por que os ciclos da vida, da morte e do nascer não mudam. É como o lado sombrio da lua, as mulheres muito mais conscientes que ela, jamais irão mostrar. 









quarta-feira, 8 de julho de 2015

O tão temido 1o mês


Este post é uma inspiracão do grupo de mães existente no ig, mamães pelo mundo, do qual acabei conhecendo por ser uma mãe brasileira na França, e posso te dizer há sim muitas diferenças, mas há sobretudo, muitas semelhanças inclusive no que se refere a opiniões e palpites alheios não requisitados. 

Eis que passamos o tão temido e comentado primeiro mês do bebê. Vem que vou te dizer como foi!

Depois do meu lindo parto, que você pode ler o relato aqui , nós passamos 3 dias na maternidade. Foi uma escolha minha, em partes, já que senti um certo receio de partir sozinha com meu companheiro e bebê pra casa. Minha mãe que veio pra França na expectativa de ver o Rudá nascer, partiu de volta para o Brasil 2 dias depois dele ter nascido. No hospital as enfermeiras me ajudaram no primeiro banho do Rudá depois das primeiras 24h, a segunda noite dele sem dúvidas que, se estivéssemos em casa teríamos voltado para o hospital, porque ele simplesmente chorou a noite inteira, e eu estava exausta e sem dormir quase 48h, entre trabalho de parto e a 1a noite, na qual fiquei totalmente sem sono admirando minha cria que em seu 1o dia de vida só quis mamar e dormir.
O leite descia e o peito estava a ponto de explodir. Rudá não conseguia mamar de tão duros que meus seios estavam. As enfermeiras vinham regularmente me ajudar a ordenhar a fim de que não ficassem tão cheios e o Rudá pudesse se alimentar. Chegado o dia de sair. Peso ok, visita pediátrica ok, teste do pezinho (que não foi no pezinho e sim na mão) ok, vitamina D, glicose e não sei mais o que que quiseram administrar ao Rudá: negados! Rudá  nasceu e saiu do hospital sem ter NENHUMA intervenção médica. 

A 1a noite dele em casa foi sim cansativa. Nós mal chegamos e recebemos visitas, e o bonito só fez dormir. As visitas saíram e o show começou… Passamos umas 2 ou 3 horas tentando acalmá-lo, bota no peito, tira do peito, colo, carinho, conversa e finalmente ele dormiu.
Nosso 1o dia sozinhos foi quase inteiro na cama, meu companheiro saiu para o trabalho e eu e Rudá só dormíamos, ele mamava e eu passava horas enfeitiçada por essa criaturinha que fiz.

Dormimos tantas e tantas vezes com ele sobre nosso peito. E eu me via com aquela cena entre o anjinho e o capetinha que nos dizia: essa criança só vai querer dormir assim depois, e de outro lado: que linda essa doação, essa entrega completa para o bem estar do seu bebê, você jamais se arrependerá disso! E a chupeta? Ah a chupeta, eu que era tão certa de que jamais ofereceria esse pedaço de plástico para meu filho, me rendi, disse ao meu companheiro para comprar a tal chupeta porque não sabia mais acalmar meu filho. E ele mais do que eu sabia o que queria. Ele não aceitou NENHUMA vez e nenhum tipo delas, compramos 3 e nada! Solução? Dedo mindinho da mamãe… E lá vinha de novo o capetinha dizendo que eu passaria o resto da minha vida com o dedo dentro da boca do meu filho. Me peguei chorando várias vezes quando punha o dedo em sua boquinha, pois me questionava se era certo isso, tanto pra ele quanto pra mim. E foi assim, feliz demais de ter mandado esse capeta pra pqp, ter ouvido meu instinto, meu coração e ter dado todo meu tempo, todo meu amor, meu sono para esse bebê que nos surpreende a cada dia. Para dormir? Ah dançamos tanto forró juntinhos, cantamos, passeamos e até compúnhamos juntos. 

E seguimos assim o 1o mes, ele dava crises de choro, provavelmente cólicas? Não sei e jamais saberemos. O que sei é que estava lá por 24h, 7 dias da semana sem sequer um intervalo. Perdi o medo de colocá-lo no sling, e então desde que começavam as choradeiras, sagradas por volta das 20h da noite, púnhamos Rudá no sling e papai subia e descia as escadas do prédio pra fazê-lo dormir. E nós seguimos assim nosso 1o mês, nos conhecendo, nos entendendo pouco a pouco, reconhecendo as necessidades do Rudá, sem faltar colo, amor e carinho. No início até pensei mesmo que teria sido inútil essa história de carrinho, ele só estava dentro quando dormia ou quando saíamos. E foram poucas vezes, visto que o Rudá nasceu no inverno europeu, eu odeio inverno e aproveitando sua fragilidade nao saímos de casa por quase todo o mês de fevereiro, salvo algumas poucas exceções.

Sabemos que a vida de um bebê  evolui muito rapidamente, hoje o Rudá tem 5 meses e está completamente diferente do seu 1o mês. Essa fase passou, e mesmo que na época parecia que nunca fosse acabar, ela acabou. Hoje vivemos outras coisas, outras maravilhas, outras dificuldades, o puerpério aqui é "brabeza", punk mesmo. Mas no fundo sigo com o mantra: vai passar! E é tudo muito incrível, e eu me alegro a cada dia de passar cada fase tão perto, tão presente, com tanto amor e empatia com meu bebê. Tudo vai progredindo, alegrias e tristezas e essa é a maravilha da vida, olhar pra trás  e sentir que se fez a coisa certa!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Os inimigos da amamentação

                          * Gravura retirada do livro: You, me and the breast, de Monica Calaf

Desde quando me descobri grávida eu iniciei um processo de busca bem intensivo. Bom, sou uma cientista e como toda boa pesquisadora, me dediquei a fundo no processo de busca de evidências para construção e reformulação de alguns valores. E numa dessas me fortaleci no desejo de amamentar exclusivamente e em livre demanda meu bebê. Mas, eu não imaginava o que estava a me esperar!

Por que na França o desmame é tão precoce?

Pois bem, como alguns de vocês sabem eu estou morando na França e como diz uma amiga da minha irmã: as francesas adoram uma formulazinha. E infelizmente é verdade! E aparentemente isso se intensificou com a legalização do aborto em 1975, do qual acarretou em enormes ameaças a médicos que o praticavam. Com uma pressão enorme (sobretudo de cristãos, eu até arriscaria da igreja nesse caso), ameaças de morte, e ao mesmo tempo havendo um crescente lobby das indústrias lácteas, médicos, com o intenção de diminuir o número de abortos e se livrar dessa culpa  começam a incentivar o desmame precoce. Até hoje, 40 anos depois, médicos que realizam o abortamento são mau-vistos dentro da profissão.  O incentivo ao desmame precoce parecia também uma das alternativas para uma mulher, que não desejava ser mãe, se ocupar "menos" do seu bebê e poder sem medo e peso na consciência voltar ao trabalho, desmamar seu bebê e deixá-lo aos cuidados de outrem. Lembrando que durante muitos anos a mulher lutou para poder ter direito ao trabalho, no entanto a liberdade até hoje não foi conquistada. Na França a licença maternidade é de 3 meses.
E então aos poucos foi se formando esse mau-hábito de desmame precoce. Há ainda outras razões defendidas pela sociedade para o desmame e ingestão precoce de leite artificial, além claro da ausência de incentivo e apoio moral às mães, que como todos sabem, é extremamente essencial. Uma mãe que é orientada por um bom profissional e que recebe o apoio moral daqueles que a rodeiam certamente persistirá na amamentação exclusiva E em livre demanda.
Diferentemente da nossa cultura brasileira, da qual somos super acolhidas e rodeadas de toda família, aqui até mesmo os médicos (obstetras e pediatras) sugerem que a nova família se isole. O que raramente facilita para uma recém mãe que precisa de ajuda e apoio emocional para se ocupar desse novo serzinho, ao lado de um recém pai que é quase sempre mais leigo ainda.
Moral da história, bom vamos desmamá-lo assim o pai ajuda no revezamento de mamadeiras, a mãe se "recupera" mais facilmente, e em pouco tempo bebê dormirá a noite inteira (fazer suas noites, traduzindo ao pé da letra como se diz aqui). Aliás essa a 1a pergunta que TODOS (sem exceção) fazem ao ver uma mãe com um bebezinho: il fait déjà ses nuits?
Além claro da escassez da licença maternidade. Com 3 meses, a mãe se vê obrigada a desmamar seu bebê para deixá-lo na babá e/ou na creche, e muitas dessas alternativas não aceitam como opção o leite materno para ser administrado ao bebê com o argumento de não se responsabilizar caso haja um problema no processo de armazenamento do leite materno. Ao contrário da facilidade que é simplesmente misturar algumas colherinhas de pó na água.
É claro e, felizmente que há exceções, mas essas ainda também sofrem com a falta de apoio e olhares tortos quando se expõem.

PS: quero deixar claro aqui que esse texto não tem em nenhum momento a intenção de julgar você mãe que, por falta de conhecimento, apoio ou por uma real necessidade do bebê, precisou se render ao uso do LA.