sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Depois que pari... tudo se transformou em mim!


Toda mulher nasceu para ser mãe?
Será que essa é mesmo uma verdade absoluta?
Claro que, biologicamente, nós fêmeas somos capazes de gerar e parir, porém, isso não é uma regra. Há mulheres que desejaram desde sempre ser mães, outras não pensam nisso (ainda?), e há aquelas que mesmo inicialmente não desejando, renasceram como mães – eu me encontro exatamente nesse último grupo.

O fato é que, mesmo com ou sem planejamento para tornarem-se mães, mulheres passam por uma transformação importante em suas vidas com a inclusão desse mais novo título: MÃE! Conheço mulheres que vivem bem com essas transformações, aceitando-as ou ignorando-as; e já outras que vivem uma batalha interna, uma busca pelo auto-conhecimento (ou seria reconhecimento de si mesmas), são perguntas e respostas que parecem não ter fim.

Aos poucos vamos aceitando e nos acostumando com as mudanças pelas quais sofremos. Muitas vezes são momentos doloridos, mas que trazem quase sempre um saldo final positivo. Eu vivo ainda em certo conflito hoje, mas me sinto uma pessoa muito melhor e consciente de que a maternidade me trouxe coisas maravilhosas. Passei a aceitar que o equilíbrio só existe com a morte, a vida é um contínuo desequilíbrio, tudo muda, tudo está em constante transformação.

E por isso, há alguns dias, num certo desespero em conversas interiores e questionamentos sobre meus valores e princípios, pedi para as mães na página do facebook que descrevessem quais foram as principais características que precisaram desenvolver “depois que pariram”, pois precisamos desconstruir essa maternidade perfeita que é vendida pela sociedade.

Dentre vários depoimentos na página, destaco aqui alguns dos que foram mais compartilhados.

- O mais votado: PACIÊNCIA!
Eu, particularmente, me intriguei bastante com ela. Por que? Como pode uma mãe ser paciente em meio a tantas mudanças, tantas cobranças externas, tantos choros e etc, falta de apoio e outras tantas coisas que passamos. E continuamos a cobrar da mãe a tal paciência. Claro, o bebê não tem culpa de nada disso e não merece que o tratemos com desrespeito, mas mãe, somente não se cobre caso em um momento de desespero falte a paciência! Super normal!

- Querida mãe da criança que está se esgoelando no supermercado, receba meu abraço, eu te entendo! TOLERÂNCIA / ALTERIDADE.
Princípios para confiar no outro, reconhecendo as diferenças.
Ah essa sim, eu também vivo em constante aprendizado. Como tantas coisas eram rígidas e imutáveis para mim antes de parir! Hoje percebo que o mundo é feito de tantas cores, formas e claro, ideias, opiniões, e está tudo bem!

- Não sou mais prioridade. ALTRUÍSMO.
Esse desejo enorme de que nossos filhos tenham “tudo do bom e do melhor” ou que tenham aquilo que não tivemos em nossa infância. E não precisa ser necessariamente material, ao contrário. Só é preciso estar atenta para que não nos anulemos, afinal mãe feliz, criança feliz!

- Depois que eu morrer, vou dormir pra sempre. SONO.
Essa é uma das coisas que definitivamente se perde ao tornar-se mãe. Ainda bem que eu sempre segui com o lema: depois que eu morrer, eu dormirei pra sempre! Mulheres só podem ser dotadas de uma capacidade extrema para sobrevivência com privação de sono. Há mais de 300 dias eu não durmo direito, e estou aqui: morta-viva.
Numa conversa com uma amiga também materna, falávamos das vezes em que saíamos aos finais de semana (iniciando na quinta feira), não dormíamos quase nada e tudo avançava super bem na faculdade. Claaaaro, a gente fazia 4 dias seguidos de farra e não 300, entende?

 ♫ Vamos Rudazinho, passear com a mamãe   CRIATIVIDADE.
Quem nunca cantou uma musiquinha super famosa trocando a letra pra tentar acalmar bebê num momento de desespero? Ou quem já precisou desenvolver técnicas de troca de fraldas com bebê andando sem parar? Ou ainda, quem nunca precisou se virar nos 30 para fazer o número 2 enquanto bebê se esgoelava na porta do banheiro, que sequer poderia estar fechada?
Enfim, apenas pare de pensar que você não é uma mulher criativa, porque É SIM!

- Pensamos por dois e não mais por um. RESPONSABILIDADE.
Todas as características desenvolvem-se mais ou menos em uma ou outra mãe. Mas, a responsabilidade é unânime, agora vivemos por dois por muito tempo será assim. Sempre pensaremos demais antes de tomar qualquer decisão, levando em conta a existência desse novo ser em nossas vidas!

E você, aumentaria essa lista? O que mudou em você depois que pari(u)?

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Criar filhos com ou sem palmadas?



Vamos imaginar que algum parente ou um grande amigo derramasse uma taça de vinho na toalha branquinha que você escolheu para estrear naquele jantar especial. Você gritaria e/ou bateria em algum deles? 

Ou se um ou outro não comesse todo o alimento que eles próprios colocaram no prato. Você insistiria, tentaria forçar a comida goela abaixo, perderia e paciência e se exaltaria? E aí se ele começasse a chorar? Sua reação seria tentar entender o motivo ou simplesmente ignorar a reação?

Te parece familiar isso de certa forma, mas não com adultos, certo? Crianças não são adultos, obviamente. São seres mais frágeis, com pouca experiência e que cometem mais erros, muitos erros, pois é no erro que se aprende (aliás, aposto que você que não é mais criança ainda erra até hoje, acertei?). Crianças necessitam, portanto, de mais tolerância, paciência e cuidado.

A nossa função como pai e mãe é uma experiência desafiadora e gratificante. Como em qualquer trabalho, o nosso papel de educador exige um grande conjunto de "ferramentas" para ser eficaz. Optar por não usar força física com nossos filhos pode ser um pouco mais difícil porque exige um pouco mais de premeditação, planejamento, tempo e criatividade. Porque afinal, é claro que dá um trabalho do cão. Além disso esse é o primeiro passo para mostrar a nossos filhos que violência não é eficiente em nenhum momento. 

Infelizmente, bater nos filhos é uma questão cultural em grande parte do mundo. Nós adultos adoramos confundir a cabeça dos pequenos, ora queremos que se comportem como adultos e o tratamos como tal e ora como crianças. E somado a isso, um processo de agressão só tende a piorar. “Sabe-se através de estudos que a aplicação das palmadas pode ir se intensificando ao longo do tempo, chegando até uma violência mais severa. Toda ação que causa dor física em uma criança representa um contínuo caminho de violência” (*) 

No entanto, nós como educadores, pai e mãe precisamos nos re-educar para saibamos disciplinar nossas crianças, apenas desencorajar a punição não é suficiente pois aí pode estar o perigo de confundirmos entre a educação positiva e a permissividade.  Um estudioso da educação positiva e fundador de uma instituição americana contra violência infantil, Al Crowell diz que crianças reagem de maneiras diferentes às palmadas. Isso explicaria a razão de alguns adultos de hoje afirmarem que, apesar de terem apanhado de seus pais, as agressões não terem prejudicado o desenvolvimento deles. No entanto, o autor diz que dificuldade de aprendizado, distração, dificuldade para se relacionar, depressão e tendência ao isolamento podem ser resultados de agressões sofridas na infância. Aqui vale também lembrar que agressões podem ser físicas ou verbais. 

Mas então, como podemos agir com nossos filhos? 
Trago aqui para vocês hoje uma cartilha desenvolvida por Dr Al Cowell, Que com o uso de uma linguagem simples ajuda no entendimento do conceito de disciplina positiva e lembra que o desenvolvimento infantil é dividido em cinco estágios. “Entender as características de cada um pode ajudar os pais a saberem o que esperar, de fato, e a evitar expectativas irreais sobre seus filhos”, diz o texto.

Segundo Cowel, os 5 estágios podem ser resumidos a:
empatia (sentimentos dos outros). 
- Estágio 1: 2 a 27 meses. Bebês ainda não conseguem entender o conceito de consequência nem o de empatia. 
- Estágio 2: 2 a 3 anos. “Estou confuso porque meus pais estão bravos comigo". Uma criança novinha assim ainda não desenvolveu sua consciência. 
- Estágio 3: 3 a 5 anos. “Às vezes eu gosto de compartilhar, mas às vezes não tenho vontade, mesmo que fiquem bravos comigo. "A criança está começando a raciocinar e medir os riscos de suas atitudes. 
- Estágio 4: 6 a 7 anos. “Às vezes eu ainda faço algo escondido e torço para que não descubram.” A criança agora está aprendendo a ter controle interno, está mais conectada com os outros; está começando a notar e a se importar com o que os outros sentem. 
- Estágio 5: 8 a 11 anos. “Eu quero muito aquilo, mas não me sinto bem fazendo coisas assim.” A criança começou a desenvolver algum controle interno. Seus valores morais estão se desenvolvendo com base em um vínculo saudável com seus pais. 

Se você deseja obter a cartilha e saber mais sobre como funciona o processo desenvolvido por Cowell e seus colaboradores acesse aqui. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ser mãe: da felicidade ao esgotamento.



07:30, os primeiros raios de luz inundam o quarto. Bebê chora. Hora de levantar. Sua condição piorou desde a noite anterior. No entanto, a noite deveria ter tido o efeito inverso. Ela se sente vazia, mais e mais a cada dia. Sair da cama é um calvário. Mesmo que ela possa dormir, o sono não é uma recuperação. Seu corpo está tão acostumado com o cansaço profundo e o repouso se tornou inacessível a ele. Além disso, seu corpo já não funciona corretamente. Seu estômago está constantemente amarrado, a fome não tem inundado por meses.
Com um único pé apoiado no chão, ela teve a sensação de estar em um barco. Olhos fechados no chuveiro, o enjôo estaria pronto para invadir. Ela sente que pode perder o equilíbrio e então se vê apoiada na parede. Esse sentimento a acompanha desde umas boas semanas inteiras. Ao andar na rua, ela se acostumou aos cantos das calçadas, o medo de cair invadiu seu ser. Não é raro vê-la sentar-se de repente. Suas pernas são incapazes de segurá-la quando a vertigem invade.
A ausência é tão intensa que as pernas parecem ser de algodão. O suor frio tornou-se uma transpiração recorrente. Os tremores são, por vezes, tão presentes e associam-se a uma visão turva, um limitado campo de visão e pontos negros dançando em frente a ela. É difícil de ser suficientemente precisa em seus gestos, sem concentração máxima.
Seu cérebro está em marcha lenta. Respostas às perguntas são lentas. Ela procura as suas palavras e não as encontra sempre. Ela não sabe fez ou disse alguma coisa ou se ela apenas pensava. Seu cérebro é incapaz de se lembrar de qualquer coisa de novo. Acha que se tornou particularmente difícil.
Esta mulher não está sob a influência de qualquer substância (droga ou álcool). Esta mulher é vítima dos sintomas da privação do sono que a levaram à exaustão ...


Você se identifcou com esse relato? Sente que chegou ao seu limite? Não tenha medo, mãe! Você está passando por uma fase super normal pós-nascimento dos filhos. O que não significa que você deva ignorar ou menosprezar esse sentimento. 
Em situações como essa é importante buscar ajuda. Você pode se sentir melhor somente em falar, expor seus sentimentos e montar o quebra-cabeça que se formou nessa fase. Uma ajuda profissional muitas vezes é necessária para auxiliar nesse trabalho, tanto físico quanto emocional! 
Você pode até pensar, mas você não está sozinha! 
Se você desejar e sentir à vontade, você pode usar também nosso espaço, aqui você encontrará acolhimento e empatia! 

                               




sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O fim da licença maternidade: será que nós temos escolha?




A vida de uma recém-mãe é pontuada por obstáculos. 
Primeiro vem o choro incessante, o difícil começo da amamentação e as noites mal-dormidas. 
Quando a coisa começa a melhorar, lá pelo segundo ou terceiro mês de vida do bebê, a mãe já lida com um novo e enorme desafio: o fim da licença-maternidade e a volta ao trabalho! 

Engraçado que eu não tenha falado disso ainda por aqui...
Desde que o Rudá nasceu, eu já gastava grande parte do meu tempo pensando em como seria a volta ao trabalho (sério! ou quem nunca? )
Tudo bem, acho que todas nós pensamos nisso, não é mesmo? 
Afinal de contas, apenas pensar não nos faz correr o risco de ficar sem o emprego.
Em muitos casos, isso pode ser uma escolha mas, em outros, infelizmente não.



Por um período de 5 meses pude estar integralmente com meu filho. 
Fizemos inclusive uma viagem ao Brasil para conhecer a família, só nós dois. Então, na volta, iniciamos a adaptação na casa de uma babá por meio expediente. 
Eu tive a felicidade de negociar com o chefe e voltar a trabalhar somente em meio expediente, o que me permitia estar com ele todas as manhãs! Isso já me deixava menos inquieta, mas não o bastante a ponto de me questionar todos os dias se estaria fazendo a coisa certa... até que isso começou a se confundir e se misturar com todos os outros questionamentos que já estavam rondando minha mente desde a descoberta da gravidez...

Na verdade, fui percebendo que toda angústia e culpa que sentimos é uma cobrança do nosso próprio ser e, claro, acompanhadas de uma (baita) insegurança, aquele receio básico de estar errando tudo (ai!). 

Por isso, a partir de agora, eu encorajo sempre uma mãe a fazer o que diz seu coração. Há mães que desejam voltar às atividades que tanto gostam e apreciam. Outras, prefeririam estar todo tempo com a cria. E há aquelas, em quase infinita maioria, que sequer têm escolha. Precisam voltar ao trabalho impreterivelmente, e abafam todos os sentimentos dentro do coração. Por que, afinal, mãe é forte (só que não precisa ser)! 



Em meu caso, meu coração pedia para estar 100% com meu bebê, e eu estou trabalhando tanto psicologicamente quanto financeiramente para isso. E você, o que você mais desejou ou deseja agora com o nascimento do seu bebê?

Mesmo com o peso da escolha, o que eu gostaria de dizer para você que está aqui, é que apenas uma palavra de conforto, um ombro amigo ou um simples ato de empatia já nos alivia e nos faz sentir compreendidas, não é mesmo? Então, mãe, receba meu abraço hoje, mesmo que virtual, ele é sincero e cheio de acolhida! 

Sigamos juntas nessa luta em busca de uma maternidade melhor e de todas! 

sábado, 7 de novembro de 2015

Preciso gritar para o mundo!


Esse é um texto desabafo/informativo.

Já é sabido por todos, ou ao menos todas as mães, que após esse lindo acontecimento: tornar-se mãe, nós passamos também por infinitos questionamentos, dúvidas, medos, inseguranças e contradições. 
Um dos mais recorrentes sentimentos é o de insegurança, medo de não estar fazendo tudo certo, além claro da famosa e indesejável culpa. Se o bebê tem cólica é porque comemos algo que não devia, se não chora há algo estranho, se chora é fome e já achamos que nosso leite não o sacia suficiente, e se damos "muito" colo então, nossa, fim dos dias felizes, por que estamos prestes a criar um monstrinho mimado e dependente (possui ironia)! 
E a solidão? Preciso também citar essa. Já vi mães realmente sozinhas, sem família, sem companheiro, sem amigos, se sentindo só. E já vi mães rodeada de pessoas, familiares, amigos, companheiro e acreditem: sozinhas também! 

Então não bastasse toda essa gama de sentimentos misturados a toda bomba biológica hormonal que somos naturalmente expostas há aquelas que sofrem de um outro "mal": uma tristeza profunda, uma insatisfação consigo mesma, uma redescoberta de si, e esse novo reencontro traz muitos fantasmas, muitas sombras e é preciso saber lidar com todos esses sentimentos e contradições. 
Espere! 
É preciso? 
Sim, é! 
Mas e o que a gente faz afinal? Abafa! 
A gente finge que está tudo bem, afinal, uma criança é só benção, só alegria, felicidade, união e todos milhões de outros bons adjetivos, mas não! Não é só isso. 
A mulher é culturalmente incentivada a anular todos os seus sentimentos desagradáveis, perturbadores. Sim, coloque-os embaixo do tapete e em alguns meses eles serão tão intensos, fortes e involuntários que te devorarão. 
E de novo aqui espera-se um apoio social, afinal se vivemos em sociedade não estamos preparados para a solidão, sobretudo uma depressiva solidão. Mais uma vez um sinal, um alerta, um pedido de socorro, mas não tem ninguém interessado em você.
Redescobrir-se é lindo, é maravilhoso, é necessário, mas não é mágico. É um processo, é um longo e doloroso processo! 
Pensei estar vivendo um longo puerpério, e me dei conta de que com ele fui acometida por essa tristeza. Esse estado do qual rejeitamos quase sempre até que se torna tão dolorido e tão invisível a nossos olhos que é preciso muita força de vontade e auto compaixão para se aceitar novamente. É quando então finalmente ele sai debaixo do tapete e corre atrás de você para te devorar, e você já não tem mais força para correr, não é mais ágil e ele se torna grande, grande, até o momento de estar tão perto tão perto que você desaba. 
Desabei!
E preciso desabafar! 
Preciso falar! 
Quem sabe assim finalmente alguém me ouve, me entenda ou se empatiza comigo. 
Talvez botar a boca no mundo ajude outras mulheres e mães a buscarem ajuda e/ou aceitarem ajuda a fim de evitar esse quadro tão desesperançoso. 
No brasil, cerca de 10% das novas mães sofrem de depressão pós-parto, esse quadro manifesta-se principalmente depois do 6o mês quando tudo parece estar tomando seu lugar na organização da nova vida. Mas exatamente aí pode um alerta se acender! 
Não sinto as coisas se encaixarem. 
Tudo está na mais perfeita ordem com bebê e é aí que pode morar outro grande perigo! Por que se tudo está tão bem com seu bebê, ele dorme bem, come bem, desenvolve bem... E você simplesmente não consegue sorrir? Quanta ingratidão! A vida parece preto e branco e você tenta mentir para você mesma que tudo está bem. Você tenta provar pro mundo e pro seu bebê que você é equilibrada, que você possui auto controle e pode reverter sozinha essa situação... Atéeee sentir-se completamente exaurida! 
E você, (eu no caso) continua buscar... Lê tudo que possa ajudar. E quer a qualquer custo achar uma resposta imaginando que isso irá livrá-la dos problemas. 
Mas, infelizmente, às vezes há muitas coisas na vida sem respostas! O que de fato precisamos buscar é o 1o passo para a ação.
Por isso mulher, mãe, não vamos continuar repetindo esse erro. Vamos falar! Abram a boca e o coração! Assumamos nosso lado vulnerável e busquemos muito mais que apenas respostas, busquemos nós mesmas perdidas dentro desse desequilíbrio emocional gerado desse turbilhão que nos traz uma gravidez! 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Crianças e tablets! PERIGO




Em uma entrevista dada a André Barcinski a fonoaudióloga Maria Lúcia Novaes Menezes conta como está preocupada com um fenômeno que tem percebido nos últimos tempos: o aumento do número de crianças muito novas – de dois ou três anos – usando tablets.
Profissional com mais de 30 anos de experiência, a doutora tem atendido, em seu consultório no Rio de Janeiro, inúmeros casos em que os pais chegam a suspeitar que os filhos são autistas, sem perceber que o uso prolongado de tablets, joguinhos eletrônicos e celulares é que está dificultando o desenvolvimento da comunicação das crianças.

A senhora disse estar assustada com o número de pais que deixam filhos pequenos - crianças de dois ou três anos - usarem tablets. Isso tem aumentado nos últimos tempos? 
A cada ano percebe-se que aumenta o número de crianças com menos de três anos de idade fazendo uso de tablets. Podemos observar, nos shoppings, bebês com tablets pendurados nos carrinhos. Isso tem prejudicado o desenvolvimento da linguagem e, principalmente, da socialização.

Quais as consequências que a senhora tem percebido nas crianças?
Se considerarmos que, nos primeiros três anos de vida da criança o desenvolvimento da cognição social se dá através do desenvolvimento da intersubjetividade, ou seja, que as diferentes fases da interação da criança com seus pais e cuidadores se dão através de compartilhar experiências e do olhar da criança para o outro, a utilização do tablet impede estas ações.
O tablet, utilizado por longo tempo, retira do contexto da criança esse contato fundamental para a socialização, causando um prejuízo no desenvolvimento das habilidades humanas que dependem da socialização, do envolvimento com o outro, prejudicando o desenvolvimento da socialização e do aprendizado que depende de experiências com o mundo à sua volta.

A senhora mencionou que alguns pais a procuram para tratar de supostos problemas de comunicação das crianças, sem perceber que o uso do tablet é uma das principais razões para isso. 
O que tenho observado, principalmente no último ano de clínica, é que o uso do tablet e outros eletrônicos está cada vez mais tomando o lugar da interação entre as crianças e seus pais e o brincar no contexto familiar. Os pais passam muito tempo no trabalho, chegam em casa cansados e, quando os filhos querem assistir desenhos e joguinhos no tablet, eles liberam, em vez de tentar conversar ou brincar.
Como conseqüência, se a criança tem alguma dificuldade para adquirir a linguagem e a socialização, essa pouca comunicação com os pais poderá desencadear esse déficit. Talvez, em um contexto familiar onde fosse mais estimulado a se comunicar e brincar, essa dificuldade não aparecesse de forma tão acentuada. Essa hipótese surgiu da minha prática clínica, onde na entrevista com os pais eles relatam o uso de tablets, jogos no celular e DVD. Tem acontecido com freqüência que a observação dos pais da forma que interagimos e brincamos com a criança no set terapêutico e como, aos poucos, seu filho vai começando ou expandindo a sua comunicação e o interesse em brincar, eles mudam a dinâmica com seus filhos no contexto familiar, a comunicação verbal e social da criança começa a expandir, os pais ficam mais tranqüilos e mais próximos dos filhos, e a criança, tendo a companhia do pai ou da mãe, passa a se interessar mais pelos brinquedos e em brincar e diminui o interesse pelo tablet, DVDs e joguinhos nos celular.


A senhora mencionou casos em que os pais suspeitavam ter um filho autista, mas o problema da criança se resumia a uso prolongado de novas tecnologias. 
No ano de 2014 atendi crianças com idade em torno de dois anos, trazidas com queixa de comunicação social e desenvolvimento da fala, os pais suspeitando de autismo. Mas, ao mudar a dinâmica familiar, essas crianças apresentaram uma mudança muito grande na sua comunicação social e verbal.

O que os pais devem fazer para evitar problemas desse tipo, numa época em que os tablets estão em todos os lugares?
Sei que é difícil ir contra o sistema e penso que a criança deve ser cobrada pelos amiguinhos para ter e usar um tablet. O que talvez auxiliasse a romper com o hábito dos joguinhos eletrônicos e tablets seria restringir ao máximo possível o uso do tablet. Talvez a melhor forma de se conseguir é dando mais atenção ao filho através de conversas, do brincar, e utilizar mais jogos não eletrônicos e mais interativos.
Currículo de Maria Lúcia Novaes Menezes
Fonoaudióloga formada em 1984 pela Faculdades Integradas Estácio de Sá, mestre em Distúrbios da Comunicação, em 1993, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com cursos na New York University reconhecidos e creditados neste mestrado e doutora em Saúde da Criança e da Mulher pela Fundação Oswaldo Cruz (2003). Aposentada da FIOCRUZ em 2014, mas ainda permanecendo como orientadora do projeto de pesquisa do Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem / AFEL. Atua como fonoaudióloga na clínica em avaliação e diagnóstico dos distúrbios da linguagem e orientação aos pais. Autora da escala de Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem, idealizado, padronizado e validado no Brasil para avaliar o desenvolvimento da linguagem da criança brasileira.
_______________
Você pode ter acesso à entrevista também pelo link: http://entretenimento.r7.com/blogs/andre-barcinski/nao-e-autismo-e-ipad-20150107/

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Carta a uma jovem mãe recém-nascida




Este texto foi uma colaboração de Francine 33 anos, feminista e autora do blog de poesias www.conteirodaflor.blogspot.com
______________________________

São as primeiras horas você vai saber quem é, mas questionará todo o por que de sua existência até aqui. Vai olhar para trás, mas tente não fazê-lo. Vai olhar para frente e agora com demasiada fragilidade. O Olhar para frente vai fazê-la insegura, impotente. Quando olhar para os braços vai entender o motivo. O bebê em seu colo, esse será toda a razão certa e incerta da sua vida. Ele será outra pessoa e o único projeto que por mais que você planeje e acerte você nunca saberá exatamente o que vai ser. A certeza só daqui para frente é um amor incontrolável. Até ele fazer uma semana você vai esquecer o que é noite o que é dia vai descobrir que seu corpo tem uma força e é guiado pela lei natural dos sentimentos humanos. Vai entender o segredo o “super-poder” de ser mulher. Ele não tem os sentidos formados ainda e a única forma de comunicação com o mundo será através de você. E então você vai pensar. - Meu Deus! Vai ser assim para sempre! - Como vou abrir mão de tudo?! De mim?! Para o resto da vida ?! Você vai questionar o seu amor e vai se culpar por isso, mas não se preocupe, logo vai compreender que frágil foi aquela mulher que você conheceu até agora.
Começa um novo ato. Essa mulher é outra, que dói para aparecer, mas já está aí, essa mulher é a MÃE. Aquela mesmo. Aquela que você não deu muita importância às vezes quando era criança. E mesmo que seja duro de admitir, a sua mãe vai estar em você, mais do que esteve em toda a sua vida. E mesmo quando você for dormir dolorida, acordar cansada, tente relaxar e sorrir e pensar que faltam 3 dias para uma semana. Depois dessa semana o seu corpo ainda estará fraco, mas você já vai conseguir olhar para fora, sair até a calçada vai perceber que sim! Você vai poder sair de casa. E os mamilos vão começar a doer e você vai sentir mais “bebê” do que seu bebê e não tenha vergonha viu! Ligue para as suas amigas, conte para suas irmãs, para as tias, sua mãe. Bote para fora tudo, tudo o que sente. Porque quando você olhar para a carinha do seu bebê pense que ele não vai querer ver a mãe dele com carinha de triste e seu rosto é a única coisa que ele consegue enxergar nos primeiros dias. Se tiver entediada, sozinha angustiada ande pela casa com ele no colo e cante, converse, leia em voz alta, conte histórias. Você vai começar a encontrar a sua mulher e a mãe que seu filho vai ter, e vocês dois vão começar a se reconhecer.
Curta tudo, o cheiro de leite na roupa, o chuveirinho de xixi logo depois do banho, gorfadas ... Quando menos esperar já vai estar pós-graduada em lavar manchas de cocô de todos os tipos rsrs. E sempre, sempre que você achar que não vai aguentar sozinha que é demais, põe uma música que você gosta e dança com ele no colo só vocês dois e lembra que a sua mãe passou por isso, e a mãe dela e tantas outras mulheres e que antigamente elas não tinha nem com quem compartilhar, e que antigamente mulher não tinha o direito de pensar a respeito, se era mãe e pronto. Ah estou escrevendo e esqueci de te avisar, já passou um mês ! Os sentimentos ainda vão estar confusos, mas agora seu bebê é o mais lindo e você quer compartilhar. Vocês já vão ter seus próprios códigos, não force e não se in segure eles vão surgir naturalmente. Enfim dizem, que até ele completar três meses esse período é chamado pelos médicos de segunda fase da gravidez vocês ainda estarão muito conectados e aos poucos os espaços serão encontrados, vocês ainda serão um em corpos separados e o corpo e cabeça precisam desse tempo para entender, seu filho está no mundo é outro ser. È preciso lembrar o tempo todo, só que a mulher mais linda, mais sexy, inteligente, companheira, divertida, amiga, filha, irmã, essa mulher só vai estar guardadinha para voltar ainda mais amiga sexy, filha, irmã, inteligente, companheira, divertida agora com um tempero especial, mais, muito mais, corajosa. Carregando o segredo do amor mais perfeito que é dado ao ser humano. Que é como o calo nos dedos dos músicos. Um sacrifício necessário para compartilhar um amor maior. O segredo da dor para todo o amor que é ser mais uma mulher/mamãe.

__________________________
Eu encontrei a Fran virtualmente no mundo da maternidade e numa coincidência da vida descobrimos que temos uma mesma paixão: a Fran também é mãe de um Rudá ❤️

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A verdade que toda recém-mãe precisa saber!




Eu adoraria ter ouvido a verdade, nada além da verdade! 
E eu quero que toda mulher que vai renascer como mãe saiba a verdade! Claro que nem todas as mulheres são iguais, nem todas vivem a gravidez e a maternidade da mesma forma, porque cada mulher, mãe é única e cada coração vive a sua maneira os acontecimentos da vida. Mas o que eu acho que todas essas mães precisam sim saber é que existe, além do lado feliz e alegre da maternidade, aquele cheirinho bom de bebê, aquela carinha de anjo, aquele amor incondicional do qual nos perguntamos diariamente se é possível existir, sim toda essa alegria também existe, mas coexiste com esse momento uma fase do puerpério hard, solitária e as vezes escura! E saibam que não, as mulheres não contam a verdade: é muito duro! A gente chora, desaba! Mas peraí, você acabou de ser mãe, você não tem o direito de compartilhar uma fraqueza dessas, você é mãe! Porque você é obrigada a amar o bebê, cuidar, zelar, estar profundamente grata porque tem um filho vivo e o resto não importa. O resto não existe. Ouviu? NÃO EXISTE! O resto, aquilo tudo que você sente de verdade, tem de estar escondido debaixo do tapete, escondido pela gratidão obrigatória ao universo. As novas mães poderiam abrir o jogo e dizer como é DIFÍCIL lidar com o novo membro da família, principalmente se é mãe de 1a viagem, muitas estarão se recuperando de uma cirurgia também - porque GRANDE parte das mulheres de classe média e com plano de saúde vai ter seu parto violado ou roubado - Mas aí sempre aparece uma outra, também mãe, que entende tudo! Definitivamente incapaz de expor um mínimo de empatia e admitir pro mundo que ela tb teve um período de cão; mas é melhor soltar:  "Nossa, mas minha filha dorme a noite toda desde que nasceu". Estou convencida de essas sim são as maiores vítimas do pós-parto, vítimas de todas as imposições sociais de mãe e mulher! Pode até ser que elas esconderam tão fundo tudo o que tiveram que passar sozinhas que hoje, na maior sinceridade, não se lembram mais! E penso: que triste para essa mulher e todas as outras que ela (mesmo sem intenção) tenta enganar.

O fato é que nós que estamos nesse barco e que não queremos esconder esse rio de sentimentos, nos questionamos o que há de errado conosco, qual nosso problema! Porque nos perdemos em tardes frias, solitárias e doloridas? 
E há bem pouco eu achei essa resposta, ou melhor, um caminho para cura interior do meu novo ser, da mulher que estou me transformando e descobrindo! Problema? Não, não há problema nenhum! Na verdade tudo isso que passamos é um montante emocional de vários acontecimentos físicos, químicos e biológicos. A ausência, os hormônios, a sociedade patriarcal e machista que subjuga nossos instintos e sobretudo a posição da mulher nela. Aí somam-se a isso a falta de apoio, segurança e autoestima. 


Quer um bom exemplo disso: a amamentação. Se a mulher não amamenta é julgada, se amamenta também o é. Quem está lá para apoiar e segurar as pontas para essa recém-mãe? Quem está lá para incentivá-la? 
De muitos e vários problemas que permeiam o puerpério não tive dificuldades físicas para amamentar, no entanto, esse era pra mim o momento mais solitário. Quantas vezes passava esse tempo sem sentir essa coisa que todos falam que é amamentar, simplesmente porque ainda não tinha encontrado a verdadeira interação com Rudá. Foi diferente do que imaginava. É cansativo. Tinha muitas dúvidas. O que eu ouvia era que o bebê deveria mamar e dormir 3 horas e eu deveria dormir nesse mesmo horário. Só que não foi bem assim! Me sentia no fim dum poço sem fundo. Contava durante o dia as horas para que meu companheiro chegasse do trabalho e pudesse me contar alguma novidade, pudesse me ouvir, ou simplesmente para o dia acabar... 
Por isso o meu desejo era poder entregar esse texto a cada mãe recém-nascida, dá-lhes um abraço longo, um olhar com carinho para que elas saibam que não estão sozinhas. Queria dizer muitas coisas, mas principalmente, que vai passar! Queria dizer pra que saiam de casa, não errem como eu e não se fechem, queridas! Saiam do quarto! Vão passear, vejam pessoas, saiam para caminhar com o bebê, coloque o bebê no sling! Peçam pros companheiros colocarem o bebê no sling! O Rudá passeava pelas escadas à noite com o papai (contei isso aqui). Em pouco tempo você vai se conectar e entender o bebê... E se ler o meu maior muso pediatra Dr González nunca mais vai dizer que o bebê tá com "cólica"! 


Você recém-mãe, eu te entendo! Vai passar, confia!
Não caia nessa de não confiar em você, você tem leite sim! É normal sim! Não é cólica não! Bebês choram sim, mas você pode acalmá-los, se tiver nervosa entregue-o para o companheiro ou apenas ponha-o sobre a cama e mesmo ao lado dele se permita chorar, se permita fechar os olhos e respirar FUNDO 15 segundos, oxigena o cérebro e você vai se sentir muuuuito melhor! Não transe contra a sua vontade! Tenha um sling! Leia os livros e/ou textos do Dr González, há vários deles na internet (tem um aqui)! Saia passear! Aprenda sobre os barulhos uníssonos! Durma com seu bebê! Amamente-o em livre demanda! Esqueça o relógio! Esqueça a bagunça da casa! 
Sim, todas passam por isso! 
Bebês dão um trabalho do cão, eles não possuem modo de instrução, mas você pode usar de um grande e eficiente artifício: sua confiança e o amor! 





segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Manha? Toda criança faz, inclusive as francesas!


Eu recebi várias  vezes durante a gravidez e ainda hoje a indicação do livro escrito por uma amerciana que mora na França e escreve sobre a suposta boa educação (autoritária) das crianças francesas. Você deve saber muito bem de que livro estou falando né ? Eu sempre o via nas prateleiras das livrarias, ainda no Brasil e jamais tive a curiosidade de ler porque imaginava de certa forma do que se tratava e nessa época não me interessava tanto assim pelo simples fato de não pensar em ter filhos. Pois bem, aí  o Rudá resolveu que iria chegar e eu mergulhei nessa onda da maternidade e parentalidade de um modo geral. O título  me veio novamente a cabeça, mas ainda assim não me interessava ; agora eu vivia com um (pseudo)francês e por vezes tocávamos nesse assunto educação, parentalidade mas sem muita pressa, afinal nosso Rudá estava apenas se desenvovlendo dentro de mim. 
  
No dia seguinte ao nascimento do Rudá recebi um telefonema de uma colega que estava partindo da França e gostaria de me deixar um presente. Adivinhem : o próprio: "Crianças francesas não fazem manha" ! E então, como já  havia passado todas as 40 semanas da gestação num intensivo estudo de busca pela melhor forma de acolhimento e vivência  com o mais novo membro da família, decidi que era hora de ler esse livro e me fortalecer em minhas convicções. E eu realmente não me surpreendi, esse livro tratava mesmo da forma severa e autoritária de educar e se relacionar. E não é  somente porque eu vivo na França que eu tenho essa opinião, eu também vivi uma educação severa e autoritária aonde ter medo era confundido com respeito. 
Vi que muitas mães, sobretudo brasileiras, veneraram esse livro e pensam que os europeus, mais precisamente franceses são pais extraordinariamente fantásticos e evoluídos. Enganam-se ! Toda criança faz manha, inclusive as francesas; não há mágica nessas famílias. Toda criança faz manha sim, aqui e em qualquer lugar. Todos passamos por isso, e todos temos essa tendência a olhar para o lado e se comparar, achar que o outro é capaz de gerenciar os problemas de forma mais fácil e melhor que nós. A verdade e que ser pai e mãe é  uma construção de cada dia e não é  fácil. 
E eu sou uma prova viva de que podemos mudar padrões. Eu apanhava quando criança. Eu prefiro pensar que o fato de hoje eu não ser uma delinquente ou ter chegado aonde cheguei é pura e simplesmente por causa do amor que me era dado paralelamente à educação severa a qual fui criada. E isso me dá  hoje a oportunidade de reprovar o famoso "bater para educar" e não querer naturalizar e perpetuar essas práticas. 
Eu deixo então pra vocês uma dica de leitura super interessante da da psicoterapeuta francesa Isabelle Filliozat, criadora da Escola de Inteligência Emocional e Relacional, ela defende a tese de que toda criança faz pirraça e que este, na verdade, é seu modo de se expressar em seu livro “Já tentei de tudo” (Sextante) e ensina como lidar com birras, manhas e ataques de raiva de crianças de 1 a 5 anos.



sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Celebrando a SMAM 2015 - Capítulo 5


Nessa Semana Mundial da Amamentação, trazemos uma série de textos escritos pelo pediatra Daniel Becker, médico pediatra com experiência de 20 anos de consultório privado no Rio de Janeiro. Formado pela Universidade Federal de Rio de Janeiro, especialista em Homeopatia e mestre em Saúde Pública, na área de Promoção da Saúde. Médico do Instituto de Pediatria da UFRJ. 
Voce pode ter acesso a ele a partir de seu site www.pediatriaintegral.com.br 
_____________________________________

O 5o e ultimo capítulo da nossa saga. Da metade para o final você pode se surpreender...

Mães e bebês: quem somos, e o que precisamos?

Diante de tantos obstáculos – históricos, culturais, mercadológicos, médicos, familiares – a pergunta que fizemos ao abrir este libreto sobre amamentação parece se inverter. Em vez de “porque não é tão fácil amamentar?”, parece que devemos perguntar “como é possível amamentar diante de tantas dificuldades?”.
A biologia humana (e antes dela, a da vida vegetal e animal) é dirigida para a sobrevivência e a reprodução. Alimentar um filho com seu próprio leite é um instinto básico, muito profundamente gravado na alma da mulher – afinal, quando não éramos modernos, nenhum bebê sobrevivia a não ser amamentado. Mas em nossos tempos, a cultura – a palavra que sintetiza todos os fatores mencionados nos capítulos anteriores – pode superar mesmo os mandatos biológicos mais profundos. O “Crescei-vos e Multiplicai-vos” bíblico nada mais é do que a tradução em palavras dos instintos básicos da vida – sobreviver e reproduzir-se – na boca de Deus, representando a natureza. Em nossos tempos, outros mandatos – agora da cultura – ocupam estes espaços. Comprai-vos, diverti-vos, emagrecei-vos, trabalhai-vos obsessivamente, não dormi-vos, medicai-vos e assim por diante. E os mandatos biológicos como amamentar se “desconectam”, ficam esquecidos – perdemos mesmo as habilidades naturais que recebemos para exercitá-los.
Mesmo biologicamente, uma mulher não é igual a outra. Nenhum indivíduo é igual a outro. Todos temos habilidades e dificuldades inatas. Uns nascem com talento para jogar futebol, cantar ou escrever. Outros são um desastre. Uns são dos números, outros das ciências humanas. Uns tem olhos verdes, outros castanhos. Uns tímidos, outros extrovertidos.
Algumas mulheres nascem sabendo amamentar. Tem um bico do seio bacana, um bom fluxo, produção na medida pra o bebê, pele resistente que não fissura, não dói, sabem encaixar o bebê no seio, sabem intuitivamente a pega e o jeito, dormem bem, se concentram, não se cansam, bebem muita água, não se deprimem…
Outras: tem bico plano, invertido, dolorido, têm dificuldades para colocar o bebê no peito, se sentem desajeitadas para segurar o bebê, tem pouco fluxo inicial, “empedram” logo, tem apojadura dolorosa, fazem mastites, não bebem o suficiente porque tem pouca sede, são dispersivas, ansiosas, não conseguem dormir, ficam muito cansadas…
E os bebês? A mesma história: tem os que nascem sabendo mamar. “Encaixam” no seio de primeira, tem boa pega, boa sucção, são despertos e mamam com eficácia, não demoram demais nem de menos, dormem bem e não mais que o suficiente, são tranqüilos, ganham peso, não tem cólicas nem refluxo…
E os outros: não abrem bem a boca, não tem boa pega, sugam só o bico (e machucam o seio), dormem demais, dormem de menos, tem cólicas ou refluxos, mamam tempo demais, adormecem no seio antes da hora, são dispersos, são agitados demais, invertem dia e noite, choram o tempo todo, querem fazer o seio de chupeta…
Todas estas possibilidades, e muitas outras, estão presentes na potencialidade de cada binômio mãe-bebê. É impossível prever como vai se dar a relação fundamental de cuidado entre mãe e filha/filho. Só depois do nascimento isso começa a se delinear. O que é dado é um campo de possibilidades, onde mãe e filho vão se posicionar a cada momento.
Uma mãe com “talento” inato para amamentar e um bebê que nasceu para sugar não vão ter problema nenhum. A vida é boa. Outras mães com facilidade terão bebês difíceis, e bebês com dificuldades terão mães jeitosas. Nestes casos, muitas vezes precisarão de ajuda.
Finalmente, uma mãe com variados graus de dificuldades pode ter um bebê complicado. O cenário aí é explosivo. Essa mulher e seu filho vão certamente precisar de ajuda. E essa ajuda, como começamos a explicar no capitulo anterior, deve vir de forma muito especial: com apoio, com carinho, com cuidado, com empatia. O papel do pai (o “elétron”) é crucial. Assim como o dos avós, amigos, pediatra.
Mas uma situação mais difícil precisa de ajuda especializada. A boa notícia é que por aqui, no Brasil, temos o privilegio de contar com profissionais e instituições de primeira linha na área do apoio à amamentação. Um grupo cada vez maior de profissionais – quase sempre mulheres – professoras de cursos de gestação e cuidados do bebê, psicólogas, enfermeiras, fonoaudiólogas, pediatras – são capazes de intervir como consultoras de amamentação, e de forma muito prática, cuidadosa, presente, carinhosa, ajudar uma mulher a vencer as dificuldades e angústias e conseguir amamentar seu bebê em paz de espírito e saúde.
No Brasil ainda temos o privilégio de contar com uma rede de Bancos de Leite, instituições públicas que em 2012 fizeram mais que 2 milhões de atendimentos em todos os estados brasileiros. Os bancos recebem doações de leite humano, processam e distribuem para hospitais e UTIs infantis. E muito especialmente, atendem mulheres com dificuldades de amamentar e o fazem com ótima qualidade em geral. Um recurso incrível e um dos melhores serviços do SUS – do qual podemos todos nos orgulhar.
É preciso, antes de terminarmos esse texto, um parênteses de respeito às mulheres que não amamentam. Muitas não conseguem, por uma infinidade de motivos, dificuldades, acidentes de percurso, doenças. Isso não as torna incompetentes, muito pelo contrário – muitas vezes foram heróicas em seus esforços. Para elas e seus bebês, o leite em pó é um recurso necessário, e felizmente, tecnicamente bem desenvolvido nos dias de hoje. Uma minoria de mulheres não quer amamentar – também por diferentes motivos e questões. A nós, profissionais e amigos, cabe conversar, orientar e demonstrar que amamentar seria melhor para ela e para seu filho, mas jamais criminalizá-las. Ao final, nos cabe respeitar sua opção. Se não podem ou não querem oferecer leite materno, oferecerão amor – um alimento ainda mais indispensável. E seus bebês crescerão saudáveis e em paz.
Pra terminar: otimismo
O Brasil é uma das nações mais engajadas na prática da amamentação. Nossos índices são comparativamente muito bons: em 2008, mais de 51% e nossos bebês de 4 meses eram amamentados exclusivamente ao seio – contra apenas 35% em 1999. Isso significa que estamos conseguindo aumentar muito significativamente nossa proporção de mães que amamentam. Em países miseráveis da África e da Ásia, as taxas chegam a índices trágicos de menos de 10% (justamente onde as crianças mais precisam do leite materno); na Hungria e na Suécia, chega a mais de 60%; Canadá e Japão estão abaixo do Brasil, com cerca de 40%.
Nossa cultura de amamentação, apesar de todos os problemas, é um motivo de orgulho para nós. Aqui uma mulher, na maioria das vezes, não se envergonha de amamentar em público, nem é comum ser reprimida por isso (como acontece freqüentemente nos EUA). A grande maioria das mães quer amamentar, e suas famílias ficam orgulhosas e as apóiam. E a maioria de nossos profissionais de saúde e suas instituições, apesar das mazelas e dificuldades, apóia, defende e orienta a amamentação.
Acima de tudo: nossas mulheres conseguem vencer na grande maioria das vezes o desafio de amamentar. Apesar das cesáreas, dos berçários, dos maus profissionais; apesar das latinhas, mamadeiras e das indústrias; apesar dos palpiteiros bem intencionados, da vida profissional invasiva, da pressão de múltiplas tarefas. Nesses tempos de isolamento, hiper-demanda, distração e enormes angústias, elas vão em frente, com coragem e peito aberto – literalmente – e oferecem a seus filhos o melhor alimento que a natureza criou.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Celebrando a Semana Mundial do Aleitamento Materno 2015 - Capítulo IV



Nessa Semana Mundial da Amamentação, trazemos uma série de textos escritos pelo pediatra Daniel Becker, médico pediatra com experiência de 20 anos de consultório privado no Rio de Janeiro. Formado pela Universidade Federal de Rio de Janeiro, especialista em Homeopatia e mestre em Saúde Pública, na área de Promoção da Saúde. Médico do Instituto de Pediatria da UFRJ. 
Voce pode ter acesso a ele a partir de seu site www.pediatriaintegral.com.br 
____________________________________________


Um dos posts mais populares do blog "Pediatria Integral" o quarto capítulo da saga Amamentação no Século XXI:
A Armadilha da Mulher Maravilha
- Nasce um bebê no Xingu. Todas as mulheres da oca se mobilizam. A mãe está cercada de cuidados e apoio.
- Nasce um bebê no sertão das Minas Gerais. A avó, a bisavó, as tias, a prima cercam a mãe de cuidados.
- Nasce um bebê numa aldeia africana. Numa tribo em Maui. Numa cidadezinha no interior da Tailândia ou da Polônia ou da Inglaterra – a cena se repete. Na favela da Zona Norte as vizinhas e a tia que mora na laje de cima se encarregam de ajudar. E nas mansões dos jardins? Não são mais a avó e as vizinhas, mas as duas babás, a enfermeira, a faxineira, o motorista e o segurança.
Nasce um bebê em Copacabana, no apartamento 1104. A avó está trabalhando em tempo integral. O pai só tem cinco dias de licença. A vizinha do 1103 não só não ajuda, como sequer conhece, e ainda reclama do choro noturno. E a empregada diz que só ganha pra cuidar da casa. Ajudar à noite, nem pensar.
E aí temos esse fascinante fenômeno social: a única mulher do planeta que é deixada pra cuidar de um bebê sem nenhuma ajuda é a da classe media, urbana, ocidental. Pior: ela achava que ia conseguir…
Mas essa onipotência (culturalmente induzida, claro – e muitas vezes socialmente exigida…) só dura até o 5o dia, quando muito. Na segunda semana a mulher percebe que um bebê demanda demais. Precisa de atenção 24 horas, permanente. Que os intervalos do sono não são suficientes para que ela viva: descanse, almoce, tome um banho, respire, olhe pela janela, durma meia hora, atenda ao telefone, responda um email. E os cuidados muitas vezes exigem duas pessoas. Sem ajuda, é virtualmente impossível. A amamentação facilita e muito o cuidado, já que não é preciso tratar de mamadeiras, latas, esterilizadores e bicos. Mas é preciso tempo e descanso para produzir leite. É o clássico bordão, muitas vezes ignorado: um bebê só ficará bem se sua mãe estiver bem. Em alguns momentos, é crucial que a mãe volte a ser mulher – um individuo separado de sua filha, que precisa descansar, se cuidar, relaxar, pensar em outras coisas. Ela precisa desses momentos como o bebê precisa do seu leite.
Por isso, é preciso que tenhamos menos onipotência, e que reconheçamos que vamos sim precisar de ajuda. Para isso, é necessário planejamento: quem vai ajudar, como, quando. O pai vai segurar a onda nas noites? Até quando? A avó pode mesmo ajudar? E os conflitos que tantas vezes surgem nesse momento? Uma coisa é apoiar, acolher; outra, se intrometer ou criticar – fronteira sutil e muitas vezes rompida de forma inconsciente e perversa. A empregada vai cuidar de casa? Vai ter comida pronta? O patrão vai respeitar e não ligar para falar de trabalho?
Nos dias de hoje, a situação se complica ainda mais. Em nossos tempos hiper-conectados, de distrações múltiplas e permanentes e com enorme apelo, é dificílimo estarmos concentrados em uma tarefa. Muitas vezes a futura mãe se ilude e acha que vai amamentar, trocar fraldas, ver a novela, passar email de trabalho, estudar para o concurso e postar no Facebook, ao mesmo tempo, já nos primeiros dias de vida do recém nascido.
E como se a situação em si já não fosse complicada o suficiente, aparecem outros obstáculos: o marido quer ensinar a colocar o bebê no seio (com a melhor das intenções), dizendo que ela está fazendo errado; a mãe (avó do bebê) diz “mas o que custa dar uma mamadeirinha, ela chora tanto”; as amigas dizendo que pra elas foi muito simples, que fizeram assim ou assado e que você está fazendo tudo errado; a prima exibicionista cujo bebê dorme bem, mama bem e “não dá nenhum trabalho”…. e a sociedade toda dizendo que se você não consegue amamentar seu bebê e cuidar dele integralmente, é porque não tem competência.
Reproduzo aqui um depoimento da Chris Nicklas em seu site “Amamentar é” que descreve essa situação de forma muito concreta e emocionante:
“Tantas pessoas entraram na minha casa com a intenção de ajudar! Nossa, nem sei dizer… Quantas realmente me ajudaram? Conto nos dedos!
Qual será o problema? Por que é tão difícil se abrir para enxergar o que o outro precisa?
Me recordo de uma situação em específico. Eu com o mamilo esquerdo inflamado sofrendo por ainda sentir dores no aleitamento materno, apesar dos meus filhos já estarem com três meses. As pessoas passando por mim dizendo barbaridades do tipo:
- É assim mesmo, vai calejar…
- Dê a mamadeira! Olha o que você está fazendo com você mesma, pra quê?
- Dê o peito assim mesmo! Não pode estar doendo tanto assim!
As horas passando e o meu desespero aumentando. Minha consulta médica já estava marcada. Mal eu sabia que estava com sapinho e por isso voltava a ser dolorido amamentar. Meu estado emocional não me permitia enxergar um palmo na frente do nariz!
Muito bem, numa certa altura chega minha sogra em casa. Me olha e fica devastada com o meu estado. Minha cara era de puro desconsolo. De repente ela me lança a seguinte pergunta:
- Minha filha, o que você precisa? Me diga o que fazer para te ajudar…
Meus olhos se encheram de lágrimas. Uma pergunta tão simples e tão rara de se ouvir.
Ficamos ali nos olhando, enquanto meu coração transbordava de tantos sentimentos e emoções.
O que a mulher precisa no momento da amamentação é apoio de verdade. Apoio aberto, honesto e atento. Ela não precisa de crítica, ensinamentos verticais, lições de moral ou prescrições autoritárias. Muito menos de conselhos sobre mamadeiras. Ela precisa de espaço psíquico, tempo e um mínimo de estrutura para se dedicar ao bebê. E de apoio técnico, prático, de que falaremos mais adiante.
Aliás, esse é um importante papel que o pai pode exercer nesse momento da vida familiar, o nascimento de um filho. Tão ou mais importante quanto trocar fraldas, ninar e dar banho, é garantir que o binômio mãe-bebê vai ter paz e tranqüilidade para se conhecer, se conectar, evoluir em direção a um bom desenvolvimento e a uma amamentação bacana. Para isso, cuidar da casa, e garantir que esteja em ordem; comida na geladeira e contas em dia; atender o telefone e dar conta dos palpiteiros; receber as visitas e oferecer as desculpas pois a mamãe agora está descansando… e estar atento às necessidades da sua mulher.
Gosto de comparar a família neste momento do ciclo vital com o átomo: no núcleo central, mãe e bebê recém nascido – próton e nêutron – numa relação de simbiose e magnetismo. Em torno deles, o elétron, não diretamente envolvido na troca nutritiva mas fundamental no equilíbrio de energias, nas trocas afetivas, no cuidado com a família.
No próximo e último capítulo: o campo de possibilidades – tudo pode acontecer entre uma mãe e seu bebê. Reconhecendo sua posição é possível encontrar a ajuda apropriada. E a gama de possibilidades de apoio à lactante no Brasil é das melhores do mundo.

_______________________________________

Você também encontra este texto no link
 https://www.facebook.com/pediatriaintegral/posts/876